Uma coisa posso dizer: “Wandinha”, criada por Tim Burton, adaptação da Netflix para a Família Addams, anda encantando pessoas de todas as idades. E seguramente sou uma delas. A série vai muito além do público adolescente, dialogando com ‘tribos’ e gerações diversas.

E batendo recordes como a série de língua inglesa mais vista nas plataformas digitais. Em apenas uma semana acumulou 341,2 milhões de horas assistidas e está em primeiro lugar no streaming de 80 países.

Para mim, a série mistura muito bem seus ingredientes com narrativas distintas. Amizades, desafetos, segredos de família, assassinato, disputas entre os alunos da Escola Nunca Mais

Além dos conflitos da própria Wandinha, que se sente estranha mesmo entre seus colegas, digamos, igualmente estranhos.

Logo nos primeiro episódio de “Wandinha” caí de amores por Jenna Ortega, que vive a personagem título, e entrega uma atuação incrível do início ao fim.

  • Gente, não acho que a série seja uma espécie de ‘obra-prima’ de streaming. Mas tem um gostinho de suspense, mistério, o humor ácido e cativante de Wandinha.
  • Tem também aventura, ótima fotografia, cenários, trilha sonora. E, claro, um figurino de encher os olhos de quem ama moda.

“Atrai a Geração Z e sua capacidade de falar sobre política cultural e o discurso popular sobre política de identidade. Wandinha acrescenta uma voz a essas coisas de uma forma perspicaz”, (Shelley Cobb, que é pesquisadora de cinema, ao jornal inglês The Guardian)

Visual de Jenna Ortega tornou-se um fenômeno nas redes sociais

Nada é mero acaso no figurino criado pela premiada Colleen Atwood para a protagonista. Do preto das roupas, agora mais pontuado por branco e escalas de cinza, aos cabelos, que continuam trançados, mas ganharam mais leveza com a franja.

  • Dados do Tik Tok mostram que tag #Wandinha já tem mais de 1,3 bilhão de menções. Ou seja, a personagem tornou-se em menos de 30 dias um ícone fashion.

Por aí dá para perceber que o guarda-roupa de Wandinha é um ponto alto da série, renovando a estética gótica, que aparece em outras produções de Tim Burton.

O mais interessante é como o figurino da personagem, baseado nos dois filmes dos anos 90, traz novos elementos, atualizando a identidade visual de Wandinha.

Vestidinho preto, o começo de tudo

Logo na cena de abertura, a personagem surge com sua marca registrada: vestido preto de manga comprida e gola branca pontiaguda. Foi o jeito da figurinista Colleen Atwood acenar para as Wandinhas anteriores.

Especialmente a Wandinha dos longas de 1991 e 1993, que na produção anterior da Família Addams tem 10 anos, e foi vivida por Cristina Ricci. Trinta anos depois, a atriz trabalha na série da Netflix como Marilyn Thornhill, professora da Escola Nunca Mais.

Nos looks um jeito de ver e estar no mundo

Tem uma entrevista ótima na Harpers Bazaar/EUA com a figurinista Colleen Atwood, que ajuda a entender um pouco mais o fenômeno Wandinha e sua estética visual.

Colleen Atwood contou que tudo começou com o vestidinho preto, agora com a gola mais pontiaguda. Na série, a escola é bem colorida, o visual de Wandinha Addams já a separa e diferencia de seus colegas.

Enid Sinclair, sua colega de quarto, usa roupas em vários tons de rosa, revelando sua personalidade, que contrasta com a de Wandinha.

O uniforme ‘preppy’ dos alunos e alunas da Escola Nunca Mais têm listras verticais trabalhada na cartela de azuis + roxo dos suéteres. Porém, o de Wandinha Adamms tem base em cinza e preto na mesma modelagem. Até mesmo o emblema escolar do blazer dela, também em cinza, difere do usado pelos colegas.

  • Sobre as tranças, a figurinista explicou que nas Wandinhas anteriores elas eram mais apertadas e vitorianas.
  • O visual mais leve vem da franja e das sardas, ideia que ela considera simples, genial, menos clichê e “torna Wandinha mais vulnerável”.

Peças vintage e guarda-roupa que vai de Alaïa à Zara

Para vestir Wandinha, a figurinista Colleen Atwood comprou muitas peças vintage dos anos 60/70 e algumas mais contemporâneas. O guarda-roupa vai de Alaïa, Prada e Miu Miu à Zara (colete quadriculado oversized), passando também por peças de brechós.

O vestido de festa em chiffon que Wandinha usa no baile, da Alaïa, foi encontrado na Bond Street, em Londres. As camadas transparentes e o efeito dos babados dão vida à peça, ajudam a personagem a dançar. É a roupa favorita de Colleen Atwood em toda a série.

  • O figurino em preto de Wandinha foi trabalhado para a tecnologia do cinema do século 21. Os tecidos, mesmo que parecem bem planos na tela, têm profundidade visual.

Quatro comentários da figurinista Colleen Atwood na Baazar

1
“Encontrar novas texturas no preto é sempre uma coisa complicada de fazer, mas essa é a beleza do que podemos fazer. Se você pegar o preto e der um pouco para que, sob a iluminação, ele se torne esse preto mais rico, não entrará nesse buraco escuro”

2
“Além de usar preto semirrefletivo, usei preto com branco. Quase não há preto sólido usado. Se um personagem está com uma jaqueta preta, por exemplo, eu combino com uma camisa branca por baixo para que você possa ver a manga aparecer no punho, para que não seja apenas uma mancha preta na tela”

3
“Gosto de listras irregulares e percebo que as listras ficam melhores no filme se você as sombrear um pouco. Desenvolvi para ela uma serigrafia para as listras que iam do cinza claro ao cinza escuro, então cada listra continha mais de uma cor, o que torna a superfície menos plana”

4
“Em Wandinha, podemos acertar o visual icônico imediatamente com um aceno para o colarinho pontudo original, o pequeno vestido estampado e sapatos de plataforma modernizados. E depois a colocamos em um ambiente com o qual ela contrasta totalmente. Então, reverenciamos também tudo o que veio antes”

Senso de estilo apurado nasceu com a Wandinha dos anos 1930

Em sua estreia nos desenhos animados, na revista The New Yorker, em 1938, Wandinha destacou-se com um senso de estilo apurado e diferenciado.

A personagem, criada há 84 anos pelo cartunista Charles Addams, tinha os cabelos pretos trançados como hoje e uma paleta de roupas em preto e branco.

Apareceu assim na série de TV da década de 1960. E nos dois filmes dos anos 1990, quando Christina Ricci viveu a Wandinha, uma menina de 10 anos. Agora, na série da Netflix, pela primeira vez, a personagem surge adolescente.

A Família Adams chegou à TV em 1964 e a primeira Wandinha Adamms foi Lisa Loring, atriz mirim, que tinha seis anos na época. Até pela pouca idade, ela trazia elementos estéticos mais infantis da personagem, mais marcantes nos dois longas da década de 90. Assim como nas duas animações, de 2019 e 2021, e agora na versão século 21 da personagem na adolescência.

  • O que marca mesmo as Wandinhas é o vestidinho preto com gola branca, e as tranças, que fazem parte de sua identidade visual.

Wandinha, por sinal, foi o nome que a caçula da família Addmans ganhou no Brasil. No original, ela se chama Wednesday, que tradução literal é “Quarta-feira”.

O cartunista Charles Addams inspirou-se em uma canção de 1938, que define o temperamento das crianças de acordo com o dia da semana em que nasceram.

  • “Wednesday’s child is full of woe”, diz a canção, que significa “crianças da quarta-feira são cheias de aflições”. Faz ou não sentido? Afinal, Wandinha Addams, especialmente na versão adolescente, anda em busca de entender qual o seu lugar no mundo.

Estética e estilo gótico-preppy da nova ‘Wandinha”

  • Se você anda lendo sobre a série “Wandinha”, sabe que o visual de Wandinha tem sido denominado estilo gótico-preppy.
  • O gótico pela escolha do preto dominando as roupas.
  • O preppy pelas peças inspiradas nos uniformes colegiais da elite norte-americana.
  • Como o mundo está sempre em movimento, os preppies de hoje são um pouco diferentes daqueles da década de 1970.
  • O estilo colegial não pertence mais somente à elite, esse vestir agora independe de classe social.
  • Wandinha também traz elementos da estética dark-academia. Isso mesmo! Vertente que apareceu com força durante a pandemia.
  • São jovens que idolatram atividades intelectuais, filosofia grega, poesia e usam ‘blazer preppy’, como na Escola Nunca Mais, onde os alunos aparecem com o modelo marinho e listras cinzas.

Figurinos, vestir autêntico e consultoria de estilo e imagem

Figurinos de cinema/Tv/streaming precisam contar a história dos personagens. Um jeito de dizer quem são e como se movimentam no mundo: roupas comunicam. São mensageiras.

Não deixa de ser um trabalho que dialoga com a consultoria de estilo e imagem.

Quando proponho guarda-roupa, acessórios e identidade visual para minha cliente, preciso entender quem é ela, o que deseja comunicar com sua imagem, para que construa, descubra e reposicione, se for o caso, seu estilo pessoal.

Na minha experiência, constato que não é tão fácil assim compreender a cliente e seus desejos de vestir e de imagem.

Esse é meu desafio na consultoria: oferecer propostas autênticas, compreender minha cliente, suas demandas e seu momento de vida.

  • Para isso, desenvolvi o método Interno Estilo, e tenho conseguido os resultados que tanto almejo: clientes que se reconhecem em sua identidade visual.
  • E que implementam no dia a dia e no seu vestir o que construímos juntas no processo de CI.

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Miriam Lima

Miriam Lima

“Luto por um mundo mais justo e humano e ensinei isto a meus filhos. Determinação e persistência são características das quais me orgulho. Acredito que as mulheres são várias, mas também únicas, daí que dedico meu trabalho a cada uma delas e como todas nós algumas vezes ‘enlouqueço’ com as dinâmicas da vida. Escrever neste espaço sobre imagem pessoal, inconsciente, estilo, comportamento, humanidades me enche de alegria” PS – “LEVEI UMA VIDA PARA ME SENTIR BEM NA PRÓPRIA PELE”

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