O que as primeiras-damas dos Estados Unidos representam e qual o poder de suas imagens? Para essa série de quatro artigos, pesquisei mais a fundo as histórias de Jacqueline Kennedy, Michelle Obama, Melania Trump e Jill Biden, logo após a eleição de outubro, tentando entender um pouco mais sobre o impacto de suas imagens e o escrutínio público que as acompanham das campanhas presidenciais aos quatro anos de mandato. Na consultoria de imagem trabalhamos com roupa, comportamento, comunicação verbal e não verbal e os figurinos das primeiras-damas dos EUA são uma rica fonte de pesquisa e estudo sobre imagem e a linguagem simbólica da roupa.
Existe uma atmosfera de admiração ou de repúdio em torno das primeiras-damas norte-americanas, notadamente após a passagem de Jacqueline Kenendy pela Casa Branca. Suas roupas, aparência, gestos, comportamento são subtextos lidos na esfera da imagem. As mensagens que elas passam com suas escolhas de figurino vão muito além de marcas, tecidos, cores, já que se conectam às agendas dos presidentes com quem são casadas.
O status de primeira-dama coloca à prova características pessoais e trajetórias de vida. O que vestem em cada evento traz uma simbologia, remete ao poder da imagem e seus códigos, que são monitorados, decodificados e interpretados pela opinião pública, eleitores, adversários, imprensa. Pesquisadores e jornalistas, de moda e de política, especialmente quando Michelle Obama chegou à Casa Branca, precisaram colocar em suas agendas a mensagem das roupas.
Diferente do Brasil, que só no século 20 teve a democracia entrecortada por dois golpes de Estado, nos EUA a primeira-dama é vista quase como uma instituição do país. Embora sem papel definido, o status confere importância às companheiras dos presidentes, que podem ou não assumir certo protagonismo público no governo. Quem melhor fez uso do soft power enquanto primeira-dama foi Michelle Obama, que rompeu com o trabalho assistencialista e decorativo para se dedicar a projetos mais consistentes e propositivos na educação e na luta antirracismo, por exemplo. Para isso, a advogada investiu também fortemente em sua imagem, aparência, roupa, que dialogou com suas causas e programas. Com Michelle Obama, a moda ganhou novos significados e subtextos políticos, pouco explorados até então.
O estilo de Jackie Kennedy mudou a imagem de first lady
Do corte de cabelo aos sapatos e acessórios das primeiras-damas, tudo entra em análise, criando uma sinergia entre imagem/estilo, moda, roupa, valores e aspirações da sociedade americana. Que se alteram seguindo o zeitgeist, ou espírito dos tempos. E o mundo, claro, mudou muito, e velozmente, desde a década de 60, quando John Kennedy foi eleito presidente dos EUA. Em 1961, foi inaugurada também o que pode ser denominada ‘era Jacqueline Kennedy‘, a first lady que se tornou referência atemporal de estilo. Por sinal, seis décadas depois, ela continua inspirando suas sucessoras na Casa Branca. Do colar de pérolas ao tailleur, em algum momento suas sucessoras remetem a emblemática Kennedy.
Jacqueline Kennedy tinha 31 anos quando se tornou primeira-dama dos Estados Unidos. E desde o início modernizou o conceito de first lady. Não só pela juventude. De uma família aristocrática, culta, viagens à Europa, temporada de estudos em Paris, amiga de escritores, artistas plásticos, fotógrafos, ela encarnou o sonho norte-americano do pós-guerra e um país que olhava o futuro. Ditou estilo, ajudou a incrementar a indústria da moda e incensou a carreira do estilista Oleg Cassini, que desenhava suas roupas.
Roupas de cortes perfeitos, aparentemente simples, sofisticados no efeito, eram a tradução do ‘menos é mais’, que nem era nomeado assim na época. Da elegância do figurino ao comportamento polido, Jackie Kennedy foi a primeira-dama do coração dos americanos. E segue inspirando mulheres do mundo todo. Da princesa Diane a Melania Trump, que na posse do marido, em 2016, usou o mesmo tom de azul escolhido por Jackie para a cerimônia de John Kennedy.
PARA PONTUAR
- Jackie tinha um enorme domínio sobre sua imagem e de seu impactono governo Kennedy. Ela soube comunicar como queria ser vista ao criar um estilo autêntico
- Uma primeira-dama que quebrou padrões com seu guarda-roupa. Ao adotar modelos sem manga para solenidades durante o dia, Jackie mostrou que as mulheres podiam usar esses vestidos com elegância
- O estilista Oleg Cassini desenhou grande parte do guarda-roupa da jovem primeira-dama, inclusive tailleurs e tubinhos inspirados em Dior e Chanel.
- Jackie Kennedy teve o cuidado de promover os estilistas e a moda dos EUA, sem renunciar às peças de criadores e marcas francesas, com quem tanto se identificava
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