Desde que a expressão metaverso entrou para o cotidiano, mesmo que definir com exatidão o que é esse novo mundo digital ainda seja difícil, vestir, roupa, moda e imagem visual já estão conectadas à esse contexto. O futuro está logo ali, mas já começa a alterar, de um jeito mais acelerado, a forma como nos comunicamos, trabalhamos e nos ‘mostramos’ no mundo on-line.

Estilistas e marcas de moda estão há algum tempo se movimentando nesse universo. Coleções digitais de roupas, sapatos e acessórios foram lançadas em plataformas de games: os skins, como são chamados, foram a porta de entrada da indústria para marcar uma conexão com o metaverso. Não à toa, o termo ‘phygital’, junção dos mundos físico e digital, tornou-se a bola da vez.

‘A ideia é que o metaverso seja uma espécie de Internet 3D, onde comunicação, diversão e negócios existirão de forma imersiva e interoperável. A principal dificuldade para descrever esse universo está no fato de que ele ainda não existe. Mas as gigantes de tecnologia estão investindo pesado para que isso mude em pouco tempo’
(SITE TECHTUDO)

Nas últimas semanas li e pesquisei bastante sobre esse assunto, que surgiu na mídia como uma espécie de onda nos arrebatando, mexendo com o imaginário, como se a gente estivesse dentro de um filme de ficção científica. O que tem tudo a ver, por sinal, já que imersão e interação são chaves para a compreensão do metaverso. E como isso se conecta ao nosso trabalho na consultoria?

RESPONDO COM QUATRO QUESTIONAMENTOS:

  1. Como vamos entender nossa cliente e suas demandas de estilo e imagem sem entender um mundo em constante transformação?
  2. Como imagem e vestir serão transformados e/ou ressignificados?
  3. O ‘eu-digital’, que se movimentará no metaverso, será uma versão inalcançável da pessoa na vida real?
  4. Ou, ao contrário, uma expressão criativa e livre do estilo pessoal?

“As pessoas criarão várias versões digitais de si mesmas, cada uma adaptada para fins específicos. Isso levará à fragmentação – e a uma lacuna cada vez maior entre quem uma pessoa é no mundo físico e quem ela projeta em várias plataformas online”
(Amy Webb, futurista)

‘As roupas representam a expressão de uma personalidade. Sempre foi no mundo físico e será no mundo virtual”
(Simon Whitehouse, da Eco Age)

Collezione Genesi da Dolce & Gabbana (reprodução)

Moda, roupa e gameficação da vida

Embora o metaverso seja ainda mais prospecção do que realidade, esse novo e imersivo mundo está cada vez mais próximo. Roupas e acessórios que só existem em versão virtual já são realidade hoje. São itens que até pouco tempo atrás estavam restritos ao jogos, quando algumas marcas lançaram coleções cápsulas para games. Em 2019, a Louis Vuitton criou itens para League of Legends; em 2020 a Gucci entrou para esse player com roupas, sapatos e acessórios para os jogadores do Tennis Clash.

Os jogos, dizem especialistas, são nosso novo shopping. Marcas como Balenciaga, Louis Vuitton, Tommy Hilfiger, Vans e Nike já lançaram coleções virtuais de moda em skins de games.

  • A Dolce & Gabbana vendeu por US$ 6 milhões os nove itens virtuais da Collezione Genesi. São peças NFTs (Tokens Não Fungíveis) – o que garante a autenticidade e exclusividade dos itens comprados.
  • No final de 2020, a Nike anunciou a compra da RTFKT, marca de calçados e tênis virtuais, que mistura cultura e games.
  • Em 2020, a Gucci fez uma parceria com o jogo Tennis Clash e lançou roupas, sapatos e acessórios que são comprados pelos jogadores. A grife vendeu no Roblox uma versão digital da bolsa Dionysus por US$ 4.115. Mais cara do que o item físico. Já o tênis The Gucci Virtual 25 custa cerca de R$ 70.
  • A Balenciaga criou quatro itens de sua coleção para o jogo Fortnite para ser usada como acessórios dos avatares dos jogadores. Ao contrário de outras grifes de luxo, cada skin (item) foi vendido em média por US$ 8,00.
Coleção digital do estilista Lucas Leão (reprodução)

Guarda-roupa ‘randerizado’ e moda phydigital

Em futuro próximo muita gente terá um guarda-roupa ‘randerizado’ para usar em variados ambientes do metaverso: videochamadas, lives, redes sociais, reels, aulas on-line. O vestir vai incluir roupas físicas e roupas digitais, indo muito além da possibilidade de comprar uma peça virtual, enviar uma foto e receber de volta sua imagem ‘usando’ o vestido digital para publicar nas redes sociais.

No Brasil, Lucas Leão foi o pioneiro da moda phydigital, apresentando uma coleção na SPFW em ambiente digital. O estilista lançou também alguns itens exclusivamente digitais, que podem ser comprados e vestidos através de realidade aumentada. Você compra a peça, envia uma foto, e recebe sua imagem com o vestido virtual. Imagine o que será possível com a revolução que está sendo desenhada com o metaverso?

“Por serem concebidos em 3D, os itens não possuem restrições de tamanho e ainda geram menos impacto ambiental. É sobre esse enxugamento de quantidade e o questionamento: será que precisamos de tanta roupa?”
(Lucas Leão, estilista, sobre guarda-roupa virtual)

Identidade visual e redes sociais: para onde vamos?

As redes sociais são também a vitrine de empreendedores e profissionais liberais, não somente de marcas, empresas e influenciadores. As clientes da consultoria de imagem se movimentam no mundo virtual, como nós. Ou seja, Instagram, Tik Tok e Linkedin são espaços onde nos mostramos, falamos do nosso trabalho, comunicamos nossos valores, ideias, posicionamentos, o que envolve a imagem pessoal, as roupas que usamos, a forma como nos comunicamos.

Por mais que pareça distante, o ‘vestir’ virtual logo será realidade para muita gente, e vai estar tão normalizado quanto os filtros disponíveis para selfies, lives, reuniões on-line. O guarda-roupa é parte disso, comunicação não verbal, que expressa uma identidade visual – por isso, quando se fala em metaverso e ‘eu digital’, a consultora deve começar a pensar como a imagem pessoal será impactada.

  • É bastante tentadora a ideia de ostentar no mundo virtual corpos e rostos idealizados, mas isso, certamente, afeta a pessoa na vida real, sua percepção de imagem, a forma como se vê.
  • Segundo a plataforma The Fabricant, que cria e insere looks criados digitalmente para seus clientes, 100 milhões de pessoas, nos próximos três anos, estarão prontas para o metaverso usando roupas digitais cunhadas pelo estúdio.

Como atender a cliente em ‘dois’ mundos?

Na consultoria de estilo e imagem precisamos nos preparar também para atender uma nova cliente, que vai demandar identidade visual, imagem e vestir para transitar no mundo físico e no digital. Isso, certamente, não será uma tarefa fácil, que se tira de letra. Autoconhecimento, pensamento crítico, reflexão e muita pesquisa são recursos a consultora entender e se movimentar por aspectos tão complexas, que envolve a autenticidade do estilo pessoal, tão importante para os resultados de uma boa consultoria.

  • Não basta compreender o metaverso apenas pelo foco da tecnologia, mas como ele vai alterar nosso jeito de ser e estar no mundo e na cultura.
  • Não se trata tão somente de acessar um guarda-roupa virtual. Mas como cada pessoa vai querer ser vista e o que pretende comunicar com sua imagem.

Nos últimos dois anos experimentamos jeitos de trabalhar, viver e nos comunicar que não estavam no horizonte. Uma pandemia atravessou nosso mundo, deixando marcas, experiências coletivas e singulares. Muitas consultoras me procuraram, preocupadas com os rumos da profissão.

Entendo que cabe a nós dar relevância ao que fazemos, nos voltando para práticas e processos genuinamente humanizados, usando técnicas e conhecimentos para repensar o que oferecemos às clientes. Quando cessamos de questionar, refletir, estudar e nos atualizar estamos dando passos para trás.

Miriam Lima

Miriam Lima

“Luto por um mundo mais justo e humano e ensinei isto a meus filhos. Determinação e persistência são características das quais me orgulho. Acredito que as mulheres são várias, mas também únicas, daí que dedico meu trabalho a cada uma delas e como todas nós algumas vezes ‘enlouqueço’ com as dinâmicas da vida. Escrever neste espaço sobre imagem pessoal, inconsciente, estilo, comportamento, humanidades me enche de alegria” PS – “LEVEI UMA VIDA PARA ME SENTIR BEM NA PRÓPRIA PELE”

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