Debates e reflexões sobre mulheres 50+, no Brasil e no mundo, mostram como questões de idade e aparência ainda estão imersas em estereótipos. Isso acontece também na consultoria de imagem. Acredito que precisamos nos questionar mais, e com mais urgência, sobre rótulos, modelos, padrões de imagem e de comportamento ditados para as mulheres mais velhas. O envelhecimento é irreversível, mas não a forma como escolhemos envelhecer e como se vivencia o “correr do tempo”, o que inclui, além dos bem-vindos autocuidados com aparência, saúde, bem-estar, conseguir libertar-se de ideais inalcançáveis de beleza e rejuvenescimento. Ideais que são fatores de sofrimento e de frustração em todas as idades.

Muitas vezes não nos damos conta da extensão dos danos que a cultura da juventude e dos padrões de beleza impõem, seguida de normas, regras e permissões sobre aparência, vestuário, e comportamento relacionadas à idade. Me pergunto: Como o consultor de imagem vai propor uma identidade visual autêntica, se tiver como pronto e estabelecido o que pode e o que não pode a partir de determinada idade? E sem levar em conta as histórias, expectativas e momentos de vida da cliente? Quem disse que ao buscar uma nova identidade visual uma mulher 50+ quer parecer mais jovem e driblar o tempo?

Será que não estamos ainda presos a antigos padrões no campo da idade? Ou mesmo estabelecendo novos padrões? E o respeito às singularidades de que tanto falamos na consultoria de imagem? Um exemplo, que não tem nada de bobo, é a questão de colorir ou não os fios, e percebo que está se tornando uma obrigação as mulheres ‘assumirem’ os cabelos brancos para se libertar de padrões. Ou seja, o que deveria ser escolha não deve ser imposição – não há nada de libertário nisso.

“Hoje busco entregar mais que apenas beleza, por isso peço que não editem minhas imagens. Não quero parecer mais jovem, quero ser eu mesma”, Isabella Rossellini, 68 anos (Imagem: Reprodução)

As novas ‘mulheres mais velhas’ rompem estereótipos sobre imagem, estilo, beleza

O profissional da consultoria de imagem, ao atender mulheres 50+, 60+, 70+ etc precisa redobrar seus cuidados para não impor à cliente padrões de imagem que são dele, consultor, muitas vezes alimentados por estereótipos. Certamente vamos perder espaço no mercado de trabalho se não aterrissarmos no século 21. Mesmo que o futuro não chegue ao mesmo tempo e nem de forma igual para todo mundo, milhões de mulheres, de todas as faixas etárias, que não se encaixam nos ditos padrões estéticos, se orgulham hoje de seu corpo, seu rosto, sua beleza, sua idade, seu biotipo. Será que nós, consultores de imagem, estamos preparados e munidos de ferramentas para lidar com mulheres mais velhas, perennials ou não, e as especificidades de suas questões de imagem e suas dificuldades, entraves e quereres?

Nos últimos meses, em entrevistas na mídia e postagens nas redes sociais, mulheres 50+ começaram a falar mais da própria idade, envelhecimento, os ajustes internos e os dilemas de encarar e vivenciar a passagem do tempo. Meu entendimento é o de que estamos avançando muito além de assumir ou não os fios brancos, o que é uma decisão muito pessoal, como disse, mas no início de um processo para a desconstrução de conceitos, preconceitos, normas. As ‘novas mulheres mais velhas’ estão se livrando de estereótipos sobre imagem, estilo, beleza – será que o profissional da consultoria de imagem está preparado para esse protagonismo?

PERENNIALS

Expressão cunhada por Gina Pell, editora do The Wha, em 2016, que significa perene, e designa pessoas com estilo de vida, gosto, relações sociais, comportamento e hábitos de diversas faixas etárias. Os perennials se movimentam por sua identidade social, não pela idade cronológica. São mulheres a partir dos 40 anos, que já não consideram determinante a aprovação do outro, que começaram a puxar essa fila

AGELESS

O termo se refere a pessoas sem idade e começou a ser adotado há poucos anos para difundir a cultura de que beleza, bem-estar, satisfação com a própria imagem não estão limitadas a juventude. Hoje novos debates envolvem a expressão ageless a fim de que não se torne um novo rótulo social e de mercado, limitado a aparência física, mas que se expanda revelando as possibilidades, competências e produtividade das pessoas maduras

“Eu me vejo sem maquiagem todos os dias e isso tira qualquer ilusão”, Halle Berry, 54, atriz (Imagem: Reprodução)

Você sabia que a curva da felicidade aumenta aos 50? Mas antes há o pânico de envelhecer

“As brasileiras têm pânico de envelhecer. O que elas mais falam é sobre a invisibilidade social, que as tornam transparentes”. Essa constatação é da antropóloga Mirian Goldenberg, que no ano passado lançou ‘Liberdade, Felicidade e Foda-se’, livro que reúne dados, pesquisas e entrevistas, colhidas nos últimos cinco anos, entre cinco mil homens e mulheres de 18 a 98 anos.

Mas a boa nova, segundo Goldenberg, é que a curva da felicidade entre as brasileiras volta a subir depois dos 50 anos. A pesquisadora estimula as mulheres de qualquer idade a se importarem menos com o que os outros vão pensar sobre ela, seu corpo, seu comportamento.

Em 2019, o estudo “Perennials: o Futuro do Envelhecimento”, pesquisa da Ipsos Mori em parceria com o Center for Aging Better, realizada em 30 países, entre eles, o Brasil, revelou que o conceito de velhice é cada vez mais relativo e como média global começaria aos 66 anos. Isso varia de acordo com a idade do entrevistado e o país de origem, permeado por sua cultura e seus costumes.

Afinal, o que é ser velho? Saiba que o inconsciente é atemporal

E o que é ser velho? Na psicanálise, o inconsciente, que rege nossa vida psíquica, é atemporal, não importa a idade cronológica, e aprendi na convivência com as pessoas e na minha prática clínica que há pessoas jovens que são velhas e aquelas velhas que são jovens. Mais ainda, que os sonhos não envelhecem e o quanto o bom humor é revigorante e bem-vindo quando tudo parece um caos. Temos alguns caminhos, entre eles, nos dar conta dos preconceitos e padrões que assimilamos, o que nos ajuda a lidar com nossas próprias dificuldades em relação a idade e finitude.

De minha parte, dedici que rótulos etários e padrões de comportamento não definem quem sou. Tanto que aos cinquenta anos me reinventei profissionalmente, deixando a clínica psicanalítica para atuar como diretora criativa de uma marca de roupa festa e, na sequência, na consultoria de imagem.

O envelhecer, no meu caso, tem sido também um processo de mudanças. Não que seja sempre fácil. Mas achei meu jeito de enfrentar os sinais do tempo no corpo e no rosto sem enlouquecer o tempo todo com as rugas. Podemos nos reinventar, não importa a idade, como fiz ao mudar de profissão, e me sinto hoje cheia de energia, tocando vários projetos na consultoria de imagem.

Linda Rodin, 73 anos, estilista, blogueira, empresária e influencer, já disse seu maior truque é usa suas peças por décadas (Imagem: Reprodução)

Bem na própria pele em qualquer idade. Quem não?

O que percebo é que mulheres mais velhas estão demandando mais o trabalho do consultor de imagem. Ou seja, a mulher 50+ está cada dia mais interessada em contratar uma consultoria. Ela quer aprender sobre coloração pessoal, estilo, corte de cabelo que harmonize com seus traços faciais e seu gosto, entender como funciona seu armário, quer consumir de forma responsável. Minhas clientes na faixa etária acima de cinquenta anos se revelam mais flexíveis, esperam bons resultados com a consultoria de imagem e estilo, mas suas experiências de vida a fazem mais avisadas.

Fica claro que elas querem o que toda mulher quer: sentirem-se belas e satisfeitas em sua expressão visual. O caminho que trilham é diferente, não costumam pagar o preço da adequação de imagem a qualquer custo, o que significa que as padronizações e referências sobre o que podem ou não usar estão ficando no passado. Temos, e celebro isso, uma nova geração de mulheres mais velhas, que se permite tocar projetos, que ganha e gasta como quiser seu próprio dinheiro, e não aceita mais que o mercado imponha como vão envelhecer.

Desde o início de meu trabalho na área procuro lançar luz sobre questões de idade e envelhecimento, desfazendo mitos e preconceitos da idade. Falo e escrevo também sobre experiências que vêm de minha própria história, que envolve uma migração de carreira, e o quanto hoje me sinto bem na própria pele aos 57, o que não se deu sem percalços, dilemas, conhecimento e ‘re-conhecimento’ de quem sou.

Deixo aqui o convite aos consultores de imagem para debates e reflexões sobre as mulheres 50+ no nosso trabalho. Convite que estendo a todas as pessoas, que estão vivendo, ou ainda vão lidar, com os desafios do envelhecimento. O futuro é agora!

Toda mulher vale o tempo e o cuidado, independentemente de sua idade e suas origens”

JULIANA MOORE, atriz, 60 ANOS

ALGUMAS MULHERES INSPIRADORAS

Mulheres inspiradoras: Maye Musk, 72, nutricionista e influencer
Mulheres inspiradoras: Costanza Pascolato, 81, empresária e consultora de moda
Mulheres inspiradoras: Margareth Dalcomo, 66, médica, pneumologista, cientista
Mulheres inspiradoras: Kamala Harris, 56, vice-presidenta dos Estados Unidos
Mulheres inspiradoras: Juliana Moore, 60, atriz
Mulheres inspiradoras: Lyn Slater, 64, professora, modelo, influencer
Mulheres inspiradoras: Melanie Kobayashi, 57, blogueira e influencer
Mulheres inspiradoras: Sarah Jane Adams, 64, designer de joias
Miriam Lima

Miriam Lima

“Luto por um mundo mais justo e humano e ensinei isto a meus filhos. Determinação e persistência são características das quais me orgulho. Acredito que as mulheres são várias, mas também únicas, daí que dedico meu trabalho a cada uma delas e como todas nós algumas vezes ‘enlouqueço’ com as dinâmicas da vida. Escrever neste espaço sobre imagem pessoal, inconsciente, estilo, comportamento, humanidades me enche de alegria” PS – “LEVEI UMA VIDA PARA ME SENTIR BEM NA PRÓPRIA PELE”

Leave a Reply