No último dia 14, em meio a escândalos e reformas, um traje utilizado no Palácio Oficial da República protagonizou capas de jornais e postagens nas redes: o presidente Jair Bolsonaro recebeu ministros, representantes da equipe econômica e o major Vítor Hugo, líder do governo na Câmara, usando um pijama estranhamente desproporcional e chinelos. Para um candidato alinhado à busca pela tradição, especialmente no aspecto moral, o visual torna-se ainda mais paradoxal. O usuário Christian Edward Lynch conseguiu sintetizar a situação em uma única frase: “…temos no poder um estranho conservadorismo, que não é da tradição, mas do achincalhe.”
Nessa estranha combinação, o presidente usou também uma camiseta falsificada do Palmeiras para comandar a reunião. Os eleitores mais entusiasmados elogiaram a “humildade” de Bolsonaro, mas o Fórum Nacional de Combate à Pirataria alertou para os malefícios de artigos que fomentem esse tipo de comércio, dado que ele tem fortes ligações com o tráfico, roubos e outros tipos de crimes, algo que o presidente afirma se comprometer a combater.
O desleixo com o traje alinha-se com as atitudes do presidente diante do público, especialmente quando se trata da imprensa. Afinal, um representante escolhido democraticamente pela população brasileira e que se elege com a proposta de resgatar a autoridade do Estado não poderia fomentar tuítes agressivos e debochados, comunicar-se informalmente com emojis diante de crises políticas e demonstrar descuido com a aparência, mas Bolsonaro tem subvertido todas essas “regras”.
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Ocorre que, por elas serem vistas como meras “formalidades”, algumas pessoas vêem nesses deboches um desmanche das tradições, atreladas, na mentalidade de algumas pessoas, à corrupção e ao abandono dos interesses populares.
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Como bem temos observado pelas notícias, contudo, o “despojamento” do novo presidente pouco se relaciona com o questionamento de velhas práticas de poder.
Uma aparição que alcança o limiar do desrespeito
Como Christian muito bem coloca, receber os ministros no Palácio, diante da imprensa, é um ato público. Isso pressupõe que o chefe do Estado abandone sua esfera privada para representar a nação. Nenhum trabalhador sai para o ambiente de trabalho de pijamas, não só porque as empresas não o permitem, mas também porque todos nós sabemos (ou deveríamos saber) sobre a importância da imagem para conquistarmos oportunidades no mercado. Ao posar de chinelos e pijamas amarrotados para uma reunião no Palácio Oficial, Jair Bolsonaro demonstrou profundo desrespeito a todos nós, que contribuímos com impostos para que ele represente a imagem de nossa nação.
Como eu disse no artigo sobre imagem e respeito ao próximo, não adianta ter os discursos mais impactantes se você não age de maneira coerente com eles. O que você faz exerce um poder muito maior sobre a sua imagem do que o que você diz. Até o momento, as atitudes de Bolsonaro somente têm servido a uma potente cortina de fumaça, capaz de ocultar investigações, atitudes equivocadas de sua equipe e notícias potencialmente danosas para o governo dele. Se é estratégia ou não, a verdade é que ainda fazemos questão de mais respeito à nossa profissão e ao cargo que o povo brasileiro concedeu a ele.