Em meu trabalho de consultora de estilo e imagem ajudo minhas clientes a expressarem quem elas são e a se sentirem mais confortáveis com sua imagem, suas roupas, sua aparência. E sem me prender a excessos de regras, que mais atrapalham do que ajudam no estilo pessoal. Acredito que autenticidade não se consegue seguindo um rígido manual para adequar a pessoa a padrões de imagem, de corpo e de idade. Muitas mulheres, a partir dos 50 anos, acham que algumas peças, modelagens, cores e estampas são proibidas para elas. Mas não precisa ser assim!
Pode até parecer incrível, mas, ainda hoje, atendo clientes, que, mesmo adorando jeans, camisetas e decotes, por exemplo, ainda têm dúvidas se podem usar. Elas se questionam se fica bem, se já não estariam “velhas”, se não estão gordas, se não estão ultrapassando limites.
Nessas situações, o que trabalho com elas na consultoria de estilo e imagem são modelagens, silhuetas, texturas, como criar looks despojados ou mais elaborados de acordo com as peças escolhidas. A única exigência é que as peças vistam bem: ouseja, que a dona da roupa se sinta confortável em suas escolhas.
Dilemas da cliente e a consultoria de imagem ‘restritiva’
Roupa X idade X corpo envolve um dilema de mão dupla – de um lado, consultoras de imagem ainda imersas em padrões muito restritivos. De outro, as próprias clientes considerando que, após os 50 anos, por exemplo, precisam abrir mão de determinadas peças para se “adequarem” à faixa etária.
Vale lembrar que experimentamos novos tempos. Mulheres mais velhas já se permitem viver sua idade com certo conforto e bem-estar com a própria aparência. Temos uma geração que chega aos 50, 60 anos com mais liberdade em relação ao guarda-roupa e ao estilo pessoal. Mas será que alcançamos, mesmo, essa autonomia no vestir, abolindo normas e padrões do que é adequado ou não a partir de “certa idade”?
- As pressões estéticas deixam muitas mulheres inseguras sobre roupa e acessórios, como se envelhecer fosse permitido, desde que “não pareça” ter mais de 50.
- “Desde que”, por sinal, faz da idade (e da aparência) uma pedra no sapato das mulheres em geral.
- Daí tantos truques para disfarçar quadris, alongar silhueta e pernas, afinar cintura, parecer mais alta, mais magra. E mais jovem.
Idade e corpo: pedras no sapato?
Na vida social e profissional, o envelhecer das mulheres continua funcionando como uma espécie de fim de jogo. Para continuar, elas precisam aparentar menos idade – não basta estar bonita, saudável, intelectualmente produtiva, ter uma carreira, ser reconhecida no que faz. Permanecer “jovem” funciona como uma obrigação para transitar em uma cultura que supervaloriza e idealiza beleza e juventude.
O processo da idade como “pedra no sapato” começa bem antes dos 40 anos. Mulheres jovens se preocupam, muitas vezes de forma desproporcional, com as rugas que ainda vão chegar, com as futuras alterações no corpo e por aí vai.
Enquanto isso, quem começa a adentrar os 50 vivencia os efeitos não da idade em si, mas de como são vistas socialmente. Mirian Goldenberg escreveu recentemente um artigo sobre a pressão que as mulheres sofrem com o envelhecimento, levando muitas delas a deixarem de usar roupas e acessórios, como jeans e decotes.
A pesquisadora cita o caso de uma jornalista de 59 anos, uma das entrevistadas de seu livro A Invenção de uma Bela Velhice. Aos cinquenta, ela deixou de usar o que mais gostava – jeans, shorts, camisetas decotadas, saias curtas, vestidos justos, botas. Tudo para “se tornar uma senhora respeitável”. Interessante que o marido, 62 anos, continuou se vestindo como sempre – jeans, camisetas surradas, tênis velho. Ele mesmo disse que sua mulher “abandonou tudo o que sempre usou e gostou”.
Vestir das mulheres 50+ e decotes: pode, sim!
O vestir das mulheres mais velhas costuma também render falsas polêmicas. Em 2016, Susan Sarandon foi alvo de algumas críticas ao usar um terno branco Max Mara e top decotado na festa do Actors Guild. Então com 69 anos, seu belo look indignou, por exemplo, Karen Salikn. “Ninguém quer ver seu velho decote! Cubra-os!”, postou a atriz, pouco conhecida por aqui, referindo-se a premiada Sarandon.
E ficou sem resposta, pois Susan Sarandon não se deu ao trabalho de retrucar, já que prefere abordar temas bem mais relevantes do que as roupas que usa. Em uma entrevista à revista V, ela afirmou que mesmo se pudesse não voltaria a ter 25 anos.
“Agora sei muito mais e estou muito mais à vontade em minha pele. Quando ouço as jovens queixarem-se por coisas superficiais, digo: vocês estão no auge de sua beleza física! Aproveitem e parem de se preocupar se as coxas estão grossas demais. Se você se incomoda aos 25, a vida vai ser difícil” (Susan Sarandon)
E vamos combinar que Susan Sarandon, hoje com 75 anos, continua usando decotes e pouco se importando com menções sobre as roupas e looks que usa. Ativista dos direitos humanos, prefere se posicionar sobre esses assuntos, enquanto mostra seu talento em filmes como
No quesito escrutínio público, nem mesmo Angela Merkel passou incólume. Em 2008, ela usou um vestido de tafetá para uma noite de ópera – mas o decote foi considerado “inapropriado”. Jornais sensacionalistas estamparam manchetes como “Merkel estica o peito” ou “Merkel mostra decote”. Tudo porque a então primeira-ministra alemã “estava com 54 anos”.
“Eu não esperava provocar tanto furor com o vestido de noite, que nada mais era do que uma tentativa de sair da rigidez do guarda-roupa de um chefe de governo em uma noite de ópera” (Angela Merkel)
Qual o caminho para oferecer uma imagem autêntica à cliente?
Nos meus quase seis anos na consultoria de imagem não foram poucas as clientes que atendi cheias de dilemas e inseguranças com seu guarda-roupa. Defendo e trabalho em prol de uma CI que ajude minha cliente a ser menos refém de padrões, levando para seu vestir e sua aparência o que realmente gosta.
Conduzo meu trabalho, e ensino para minhas alunas do curso Método Interno Estilo, que o foco deve ser sempre oferecer à cliente uma consultoria em que ela consiga expressar um estilo pessoal autêntico. Ora, a busca pela autenticidade nos leva a questionar velhos hábitos, inclusive se não estamos fixadas em modelos de imagem, tentando ter o corpo da moda, o rosto da moda, o cabelo da moda. E tentando copiar o estilo de alguém, em vez de buscar inspirações e referência.
Quando minha cliente sai da consultoria compreendendo que não existe imagem perfeita, ela ganha recursos para trabalhar o próprio estilo com autonomia e liberdade. Com um guarda-roupa e uma aparência mais coerentes com seus valores e anseios, ela se torna mais aberta para agir de maneira autêntica, criando uma marca pessoal forte nos âmbitos do trabalho, familiar e pessoal.
Se você, consultora de estilo e imagem, quer trabalhar autenticidade no vestir da cliente, deixe de lado as muitas normas ainda em uso, que enquadram a pessoa pelo seu corpo e por sua idade. Precisamos conhecer bem as regras para quebrá-las com criatividade, nos valendo da técnica como ferramenta a favor da cliente.
12 COISAS QUE DIGO ÀS MINHAS CLIENTES
- A roupa que você usa deve fazer sentido para você, não para mim, consultora de imagem.
- Eu conduzo o processo da consultoria de imagem, não conduzo você, minha cliente.
- Isso significa que vou tentar entender o que realmente você quer, respeitar seu jeito e suas preferências.
- Os resultados não serão nada bons se eu tentar te impor meu gosto pessoal.
- Tenho todo o manejo, humano e técnico, para propor uma identidade visual autêntica, que você vai conseguir implementar no seu dia a dia.
- Domino os recursos técnicos para realçar o que você gosta ou até disfarçar o que não gosta. Mas a escolha deve ser sempre sua.
- Você vai conhecer seu biotipo, ou seja, o formato do seu corpo.
- Vai ficar sabendo sobre modelagens das roupas e seus efeitos sobre a silhueta.
- Quais cores que mais te favorecem, de acordo com sua cartela cromática.
- Vai entender como listras e estampas criam ilusões ópticas.
- São informações que te ajudam a fazer suas escolhas de roupa, acessórios, sapatos.
- O objetivo não é definir o que você pode ou não pode usar. Ou seja, não tem peça proibida.
Pelo contrário! Não existe ‘imagem perfeita’ e todas nós temos alguma insatisfação, por menor que seja, com o corpo (ombro largo, ombro estreito, bunda grande, bunda pequena, perna grossa, perna fina, seio grande, seio pequeno, barriguinha e por aí vai).