O consumismo, que pode levar a uma compulsão por compras, tem causas conscientes e inconscientes. Como acontece com muitos outros tipos de compulsão, os mecanismo que levam uma pessoa a se comportar assim estão ligados as suas histórias de vida e aos acontecimentos que marcaram sua trajetória. É impossível a gente generalizar causas e motivações do consumo desvairado.

A compulsão por compras, a meu ver, ainda é pouco discutida, mas acredito que, nós consultores de imagens, podemos ajudar a quebrar os tabus sobre isso. Um bom exemplo foi quando há três anos a cantora Preta Gil deu uma longa entrevista para falar de sua compulsão por roupas, sapatos e comida. Quando ela abordou publicamente sua doença, contando inclusive que vendeu seu apartamento na época para pagar dívidas, certamente ajudou outras pessoas, que sofrem muitas vezes em silêncio, do mesmo jeito que ela sofria.

A compulsão por compras é um transtorno, conhecido como oniomania, que atinge 5% dos brasileiros, como revelou pesquisa do Pró-Amiti, serviço do Hospital das Clínicas da USP. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a característica essencial de quem sofre desse transtorno “é a falha em resistir a um impulso, instinto, ou desejo de realizar um ato que é prejudicial ao indivíduo ou outras pessoas”.

“Naquela época, ninguém achava que aquilo era doença, até hoje é um problema visto com preconceito, mas é uma doença da alma. Eu não tinha vício em bebida, drogas, nada disso. O meu vício era comprar e comer. Foi quando fiquei mais gorda na vida, cheguei a pesar mais de 100kg. Eram as duas válvulas de escape para a minha tristeza”

PRETA GIL

Oniomania, a compulsão por compras, atinge muito mais as mulheres

Entre as muitas pesquisas, e entrevistas que li sobre o tema, destaco uma com Daniel Fuentes, no site da Pró-Amiti. Segundo ele, as mulheres são maioria entre as pessoas que sofrem do transtorno de compulsão por compras – “todas possuem temperamento forte, são ágeis, dinâmicas, inquietas, perfeccionistas, possuem uma desenvoltura social e cultural maior, são imediatistas e muito inteligentes”.

O consultor de imagem deve estar atento a essas questões. Não somos profissionais da área PSI, nem por isso devemos ignorar, ou nos manter desavisados, quando trabalhamos com uma cliente que compra, compra e compra desvairadamente itens de vestuário e acessório, por exemplo. Diagnosticar problemas psicológicos e emocionais de uma cliente não é tarefa nossa. Isso precisa ficar claro. Mas podemos, e devemos, nos informar.

Minhas roupas, meus excessos, minhas dores

Isso faz parte da vida e é bem diferente do consumo desenfreado, indicativo de que algo não vai bem. Ou seja, não tem uma motivação real, a pessoa desconhece a causa desses excessos e depois da compra costuma aparecer um baita sentimento de culpa. Quando está comprando, a pessoa sente uma enorme satisfação, que logo acaba. O tal sapato novo ou tal a roupa nova já não trazem mais satisfação. E o resultado disso? O círculo vicioso se mantém, já que a satisfação não vem do objeto em si, vem do ato de comprar.

A compulsão traz prejuízos de várias ordens, do ponto de vista social, pessoal e financeiro. Na compulsão por compras, a pessoa compra muita coisa que não tem a menor utilidade. A pessoa compulsiva abre mão de atividades prazerosas para fazer compras. Há um limite entre gostar de comprar um vestido novo, por exemplo, e o consumo compulsivo, quando o prazer não está no objeto, mas compra para tentar tamponar dores e sofrimentos.

UMA CLIENTE CONSUMISTA OU COMPULSIVA?

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A cliente tem um armário lotado e até com peças que nunca usou. Um caleidoscópio de cores, tecidos, nem ela consegue saber tudo o que. Um guarda-roupa que vai da terra ao céu. Ela tem de tudo não se reconhece na hora de escolher uma roupa. E parece que as roupas também não a reconhecem. Então compra mais e mais. Minha cliente é consumista ou compulsiva? Pessoas consumistas ainda têm algum limite no quesito compra e com seus gastos. Não significa que ser consumista é tudo bem. Pelo contrário, também é um indicativo de que algumas coisa não vai bem na vida da pessoa.

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Já uma compradora compulsiva, que costuma até se endividar, ocupa muitas horas semanais rodando as vitrines das lojas, pagando por produtos que não vai usar, ou no mínimo pensando freneticamente no prazer que vai sentir na compra. Nessa rotina, nada saudável, a cliente não encontra uma forma de parar de comprar. Essa é uma busca enlouquecida, em que a pessoa deixa de ser consumidora para ser consumida. Ou seja, o desejo dela, nessa história toda, some. O que reina são os objetos.

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Miriam Lima

Miriam Lima

“Luto por um mundo mais justo e humano e ensinei isto a meus filhos. Determinação e persistência são características das quais me orgulho. Acredito que as mulheres são várias, mas também únicas, daí que dedico meu trabalho a cada uma delas e como todas nós algumas vezes ‘enlouqueço’ com as dinâmicas da vida. Escrever neste espaço sobre imagem pessoal, inconsciente, estilo, comportamento, humanidades me enche de alegria” PS – “LEVEI UMA VIDA PARA ME SENTIR BEM NA PRÓPRIA PELE”

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