Inúmeras vezes me deparei com a afirmação de clientes com armário cheio e a queixa “não tenho nada para vestir”. Reclamação, por sinal, recorrente. Acho difícil um consultor de imagem não se defrontar com ela em seus atendimentos. Queixas como essas são dores. Elas precisam ser expressas e ganhar voz pela boca do cliente para que a imagem tenha chance de se tornar autêntica. Isso exige de nós, profissionais, além da técnica, mais experiência, sensibilidade e sobretudo escuta do cliente.
O “não tenho nada para vestir”, apesar de corriqueiro, não deve ser tomado pelo consultor de imagem como algo menor. Essa queixa, diante de um armário repleto, tem significados que diferem de pessoa para pessoa. Então não dá para fazer um diagnóstico sem os relatos do dono desse guarda-roupa. Só podemos operar a partir da fala do cliente. São muitas questões, variáveis, e falo só de algumas das possibilidades para reforçar que nem sempre tiramos de letra esse tipo de lamento.
CONSIDERE O MOMENTO DE VIDA DA CLIENTE
- Inadequação entre as roupas e o momento de vida?
- Compra por impulso?
- Ligação excessiva com as tendências de moda?
- Insatisfação com o corpo e a aparência das quais ele não se dá conta?
- Apego afetivo?
- Apego material?
Aponte, com cuidado, novas possibilidades para sua cliente
Como ajudar o cliente a compreender e se haver com um armário abarrotado? E se ele acha que isso não é uma dificuldade, mesmo com a queixa de que não tem nada para vestir? O que podemos fazer pelo nosso cliente? Cabe ao consultor apontar para o cliente, sempre com cuidado, novas possibilidades. Possibilidades, ao contrário das certezas, abrem caminhos com mais chances do cliente sentir-se acolhido, ajudando-o a realizar as mudanças que almeja.
Só seguindo o discurso, a palavra do cliente, que são simbólicos, podemos, no meu entendimento, ampará-lo sem nos tornarmos donos da verdade e da imagem dele. Quem deve falar e ser escutado na consultoria de imagem é o cliente, já que ele é a razão de ser do nosso trabalho. A nós, profissionais, cabe o lugar de quem escuta, lugar precioso e importantíssimo nessa interação.
“Falar é uma necessidade e escutar é uma arte”
Eu me coloco sempre nessa função de escutador. Convido meus colegas consultores a juntos aprendermos mais sobre essa arte, valorizando o discurso e a palavra do cliente, que são soberanos no processo que se pretende humanizado. Não à toa, gosto muito da frase do poeta alemão Goethe de que “falar é uma necessidade e escutar é uma arte”.
Será que nós, consultores de imagem, não estamos invertendo essa lógica, assumindo o lugar de donos da verdade? Vale lembrar sempre que quem sabe de suas dificuldades e do que necessita é o cliente. Refletir sobre a nossa prática do nosso trabalho exige esforço, consome energia, de vez em quando nos faz perder o sono, mas traz muitos benefícios, a gente só avança.