Em tempos de pandemia, que tanto alterou nossa vida, considerar uma questão como a compulsão por compras é cada vez mais importante na pratica do trabalho do consultor de imagem. A compulsão não é tema que se tire de letra. Nem na vida, tampouco no nosso trabalho na consultoria de imagem, mas precisamos estar prevenidos para lidar com essa questão em nossos atendimentos, sempre operando nos limites que nos cabem profissionalmente. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o consumo compulsivo atinge 8% da população adulta e as mulheres são as mais afetadas no quesito compulsão por compras, o que envolve um consumo desenfreado de roupa, sapatos, acessórios, itens de beleza. Mas até que a pessoa que afetada pelo distúrbio se dê conta de que sofre de um transtorno podem se passar anos.

E quais os recursos do profissional da consultoria de imagem para lidar com essa situação? Como conseguir um bom resultado, por melhor que seja a nossa técnica, se um cliente está atravessando um problema dessa natureza? Não existe resposta pronta, mas caminhos possíveis, sempre considerando que cada cliente é único.Não dá para generalizar. E precisamos não perder de vista o cuidado para não julgar ou encher o cliente de conselhos. Não é esse o nosso papel!

Assisti em 2009 ao filme Delírios de Consumo de Becky Bloom, que acho uma referência sobre o tema da compulsão por compras e alguns aspectos perversos do consumismo. É a história de uma jovem jornalista, que vai viver em Nova York a fim de trabalhar em uma famosa revista de moda.

Além de descobrir a cidade, Becky dá vazão aos seus desejos insaciáveis por roupas, sapatos, acessórios, perfumes. Comprar era um vício, como a personagem diz no filme. Uma comédia que critica o consumismo em cenas hilárias, e que mostra os problemas por trás da compradora compulsiva que é Becky, sua relação com imagem e roupa, as dificuldades para lidar e entender as causas de seu delírio.

O cinema se valeu do humor como referência para uma condição que na vida real costuma causar bem mais sofrimentos e estragos do que a gente imagina. Nós consultores de imagem, não estamos livres de nos defrontar com uma cliente à la Becky Bloom. Então precisamos estar atentos e usar melhores recursos para conseguir conduzir o trabalho, sem ser invasivo, e ao mesmo tempo considerar questões tão sensíveis e complexas, como disse no vídeo anterior.

“Quando eu faço compras, o mundo fica melhor. Mas, pouco depois, deixa de ser. Daí eu preciso fazer compras outra vez”

DELÍRIOS DE CONSUMO DE BECKY BLOOM

1

O consultor de imagem tem ferramentas e recursos para lidar com clientes nessa situação?

Nossa melhor ferramenta é ficar atentos ao que o cliente nos conta. Eu redobro a minha escuta, porque o cliente certamente vai relatar ou dar pistas sobre suas dificuldades. Às vezes é numa brechinha que a cliente fala sobre o seu comportamento frenético de compras. E é a nossa disposição de escuta que pode abrir essas brechas, e devemos fazer o melhor uso delas para ajudar a cliente.

Não estou atribuindo a nós, consultores de imagem, a função de resolver os problemas de compulsão da cliente por compras ou qualquer outro de ordem emocional. Mas isso não quer dizer que devemos desconhecer um entrave dessa natureza, que geralmente assola da vida da pessoa e termina comprometendo o resultado da consultoria.

2

O que fazer quando percebemos que a cliente vive em um ciclo de consumo compulsivo?

Entregar soluções de estilo e imagem pessoal, de acordo com as necessidades e interesses da cliente, quando percebemos que ela vive em um ciclo de consumo compulsivo, exige de nós ainda atenção, tempo e disponibilidade. Eu tento entender melhor minha cliente, com cautela, fazendo perguntas e levantando algumas questões sempre a partir da fala e das observações dela. Nem considero concluir o trabalho sem dar lugar as dificuldades de imagem da minha cliente. Acho que ao passar por cima dessas questões em pouco tempo minha cliente pode estar novamente às voltas com um armário disfuncional, gastando rios de dinheiro, insatisfeita com seu estilo e a sua imagem.

3

Nunca coloque palavras na boca do cliente. Não dê às palavras do cliente sentidos que não foram ditos por ele. Seja cuidadoso!

No curso Autoconhecimento para Consultores de Imagem abordo vários pontos envolvendo a relação consultor/cliente. Entre eles, considerando subjetividades e singularidades de cada processo de atendimento, o consultor de imagem deve ser cuidados caso o cliente esteja relatando alguma dificuldade. Por tanto, o profissional nunca deve perguntas relacionando causa e efeito ou criando associações, se o cliente não falou isso explicitamente. Não nos cabe tirar conclusões, elaborar interpretações ou fazer questionamentos que podem ser precipitados, levianos e invasivos. Um consultor de imagem que respeita seu cliente jamais faz conjecturas sobre a pessoa.

LEIA MAIS SOBRE ESSE TEMA

QUANDO COMPRAR ROUPA PODE INDICAR UMA COMPULSÃO DA CLIENTE?

Miriam Lima

Miriam Lima

“Luto por um mundo mais justo e humano e ensinei isto a meus filhos. Determinação e persistência são características das quais me orgulho. Acredito que as mulheres são várias, mas também únicas, daí que dedico meu trabalho a cada uma delas e como todas nós algumas vezes ‘enlouqueço’ com as dinâmicas da vida. Escrever neste espaço sobre imagem pessoal, inconsciente, estilo, comportamento, humanidades me enche de alegria” PS – “LEVEI UMA VIDA PARA ME SENTIR BEM NA PRÓPRIA PELE”

Leave a Reply