O que fazer quando reina excesso de ego e narcisismo relação consultora de imagem/cliente? No nosso campo de trabalho, o “ego inflado” perpassa o lado da consultora e o lado da cliente. Este é um tema delicado, e ao mesmo tempo pouco discutido, mas que impacta os resultados, podendo até mesmo atropelar o processo do começo ao fim, caso a profissional fique desavisada. Não poucas vezes, lidamos com clientes vivenciando dificuldades em relação à imagem, que vão além da aparência e diferem de pessoa para pessoa. Uma determinada cliente dá mostras, por exemplo, de investir excessivamente na imagem, o que pode indicar um comportamento narcísico. Outra, ao contrário, se deprecia o tempo todo, e espera que a consultora de imagem de alguma forma assuma o controle do processo, sem se responsabilizar pela mudança de identidade visual.
Na primeira situação, a consultora de imagem pode lidar com o ego inflado de alguém que manifesta uma sensação extremada de sua importância. No segundo caso, devemos é controlar nosso próprio Narciso na lida com a cliente, deixando de lado a vaidade, sem tentar ser um modelo a ser copiado. Não existe fórmula ou manual, já que cada cliente é única, mas estar atenta a certos comportamentos ou manifestações ajudam a conduzir melhor o processo.
Alunas do método Interno aprendem a lidar com impasses que podem surgir na relação consultora/cliente, inclusive o que envolve ego inflado. Não existe ciência exata neste relacionamento, por isso, a consultora de imagem deve tratar cada nova cliente como se fosse a primeira, deixando em reserva tudo o que aprendeu com as anteriores. Não ceder às experiências dos caminhos prontos é sustentar a singularidade da pessoa que estamos atendendo.
Traços narcisistas às vezes parecem relativamente moderados por comportamentos aparentemente sutis. Mas pessoas comandadas por egos inflados são pouco empáticas, demonstram egoísmo, costumam ser um tanto exibicionistas, resistem a admitir erros, mentem (até para si mesmas), inventam ou ampliam trajetórias de sucesso, buscando um reconhecimento social desmedido. Quem tem excesso de ego pode mostrar isso também no guarda-roupa, seja comprando peças demais, seja fazendo questão que todos saibam que só usa marcas de luxo, acessórios de luxo, maquiagem de luxo.
Convenhamos que não é fácil lidar com uma cliente com esse perfil e ajudá-la na construção de uma identidade e estilo visual autênticos. Será que essa cliente quer mesmo uma consultoria de imagem? Ou quer tão somente um viés de confirmação, pois considera sua imagem irretocável? Não tem técnica de CI que dê conta disso sem que antes a profissional tente entender mais a fundo essa cliente. O que não se dará sem disposição da consultora de imagem para levar adiante o atendimento sem criar uma disputa de egos e ao mesmo tempo manejar a situação, localizando as dificuldades e vulnerabilidades de imagem da cliente. Isso não tem a ver com adaptar-se à pessoa comandada por um ego inflado, cedendo aos caprichos e exigências, sem estabelecer limites. A própria consultora de estilo e imagem pode se valer da mentoria de outra profissional de CI, caso esteja enfrentando impasses no atendimento dessa cliente. Seja com relação a técnica, seja com relação a aspectos subjetivos do trabalho.
OITO INDÍCIOS DE UM ‘EGO INFLADO’
- A pessoa costuma se comportar como alguém que alcançou a perfeição. Não admite os próprios erros, porque se considera dona da verdade. Para isso, vale-se da arrogância. Mas não existe ninguém perfeito ou que não erre nunca.
- A aparente superioridade da pessoa costuma um jeito de camuflar sentimentos de inferioridade.
- Quem é comandando por um ‘ego inflado’ quer ser tratado com deferência o tempo todo. Não se considerar uma pessoa comum funciona como antídoto para lidar com as próprias inseguranças. Pessoas com ego inflado possuem baixa autoestima.
- Pessoas capturadas por um excesso de amor por si não conseguem aceitar suas imperfeições e vulnerabilidades. Elas também lidam mal com o que consideram fragilidades do outro.
- A expressão pisar em ovos cabe para essas pessoas, que se sentem melindradas por qualquer motivo.
- Como se consideram muito importantes, pessoas com ego inflado precisam de reconhecimento o tempo inteiro.
- Falar de si e de seus talentos, reais ou imaginários, é uma característica de egos inflados, que alimentam a falsa crença de que são o centro do universo.
- Como a pessoa é muito competitiva, sofre só de pensar que pode estar em desvantagem.
Excesso de ego: o lado da cliente e o lado da consultora de imagem
Se por um lado a suposição da cliente de que o consultor sabe tudo é necessária para que ela leve adiante o processo de consultoria de imagem, por outro lado nós, consultoras de imagem, devemos recusar esse mesmo papel de “tudo saber” e de “tudo decidir”. Especialmente sobre quem é a cliente e o que ela deseja.
Importante é que a consultora de imagem deixe sua vaidade de lado e não tente ser um modelo a ser copiado pela cliente. Este é um risco que a profissional corre, mas que pode e deve ser evitado. Por isso, nos cabe ser também autênticas e verdadeiras sobre nossa própria imagem, sem tentar nos adaptar a qualquer idealização da cliente. A consultora de imagem não deve se colocar como ‘dona da verdade’. Essa atitude deixa a profissional numa posição pueril, ensimesmada e aprisionada em técnicas, viciando e comprometendo o trabalho.
SEIS COISAS SOBRE O BOM RELACIONAMENTO CONSULTORA DE IMAGEM/CLIENTE
- O trabalho bem-sucedido de consultoria de imagem passa longe de o cliente tornar-se uma réplica do consultor. Passa longe de a consultora ser idolatrada pela cliente. Toda imposição de estilo e imagem é um ato narcisista.
- Uma boa consultora de estilo e imagem é aquela que consegue apreender qual é a real demanda do cliente.
- A consultora de imagem não deve nunca ficar incentivando sua cliente a buscar uma imagem ideal, que sabidamente é inatingível e nada tem de autêntica.
- A consultora de imagem jamais deve fazer um julgamento sobre a imagem da cliente ou da fala da cliente sobre sua imagem.
- É a cliente quem sabe sobre a imagem dela. Mesmo que pareça desconhecer esse fato.
- Caso a cliente relate alguma dificuldade, nunca faça perguntas relacionando causa e efeito ou criando associações, se isto não foi dito explicitamente. Não cabe à consultora de imagem tirar conclusões, elaborar interpretações ou fazer questionamentos. Lembre-se que isso pode ser precipitado, leviano e invasivo.
Qual a melhor ferramenta para lidar com o excesso de ego na relação consultora/cliente?
A palavra da cliente deve ter lugar central em um processo de consultoria de estilo e imagem. A escuta, que está no cerne do método Interno, é a melhor ferramenta para lidar com o excesso de ego na relação consultora de imagem/cliente. Vivemos a cultura da hiper individualização, precisamos aprender a escutar o outro verdadeiramente, sem dar vazão aos nossos próprios ruídos.
Se a consultora de imagem realmente acredita em humanização de atendimento, vai aprender a arte da escuta e acolher aquilo que está em torno do sofrimento da cliente com a sua aparência e imagem pessoal. Entretanto, fomos habituados a achar que acolher o outro é oferecer soluções, conselhos e diagnósticos. “Você é o tipo de pessoa assim assado”. Nada mais enganoso! Saia do lugar de conselheira, pois isso diminui a chance de mudanças significativas no processo de identidade visual. A cada vez que a consultora de imagem dá um conselho, cria um obstáculo a mais para a cliente se conhecer, se questionar e lidar com seus entraves de imagem, estilo, aparência.
- Escutar na consultoria de imagem é renunciar ao perigoso lugar de poder. O falso poder do ego!
- Quando supomos que entendemos o que o cliente não disse, não escutamos nada além do nosso próprio narcisismo.
A consultora de imagem e estilo lida com gente e autoimagem
Entender a cliente e suas questões de imagem é essencial em nosso trabalho, mas é a própria cliente quem dá o sentido de sua fala. Me coloco sempre como ‘escutador’ e no método Interno ensino às alunas o que é a escuta. A escuta é a grande ferramenta para entender a cliente. Mas só aprende e desenvolve a arte de escutar quem investe no autoconhecimento, o que ajuda a pessoa a se deslocar do lugar de quem tudo sabe para colocar de verdade o foco em sua cliente, suas demandas, seus desejos e suas dificuldades de imagem.
A cliente deve ser a protagonista de todo o processo. A maior mudança que uma consultoria de imagem pode provocar na vida de uma cliente é que ela se desloque de uma posição narcísica de excesso – para mais ou para menos. Considero que minha função na consultoria de imagem é ajudar a cliente na mudança de identidade visual, nunca tentar consertar suas dificuldades psicológicas.
A psicanálise nos ensina também que o narcisismo é essencial para a constituição de nossa psique. Ou seja, um tanto de amor por nós é necessário para sustentar a autoestima em seu aspecto positivo, pois, afinal, o gostar de si é saudável. Entretanto, o culto excessivo à própria imagem pode indicar dificuldades em lidar com a realidade, encobrindo outros tipos de problemas.
Por que abordar este tema na consultoria de imagem? Porque lidamos com gente e autoimagem. Lidamos com aparência, roupa, estilo, comportamento e cada cliente lê o mundo de acordo com sua partitura interna. Quando criei o método Interno me vali de minha experiência de mais de 20 anos na psicanálise clínica para ajudar na formação prática da profissional de imagem. Não uso minha formação para ser terapeuta de minhas clientes, mas essa bagagem me permite transitar por esses temas sem achismos, o que tem auxiliado a formação de minhas alunas em questões subjetivas, e muito importantes, de nosso trabalho.