O que leva alguém a encarar uma nova carreira? No novo mundo do trabalho, o que parece ter sido ampliado pela pandemia, cada vez mais pessoas estão pensando em virar a chave. Seja migrando para outra profissão, seja empreendendo, seja mudando de empresa. “The Next Great Disruption is Hybrid Work – Are We Ready?”, pesquisa da Microsoft, lançada este ano, revelou que 54% dos entrevistados no Brasil estão considerando uma mudança profissional. Segundo o relatório, estamos à beira de uma disrupção no local, nos modelos e no jeito como vivenciamos o trabalho. Não à toa, o estudo mostrou também que 46% dos brasileiros já planejam morar em outra cidade, agora que podem continuar a trabalhar remotamente.

A pandemia pode estar acelerando tomadas de decisões em relação à carreira, o que passa por dilemas, inseguranças e medo. Para quem pensa em uma guinada radical, mudando de profissão, além de coragem, planejar passos e etapas é essencial. Trajetórias são singulares, certezas não existem. No meu caso, mudar de profissão, fechando meu consultório de psicanálise após 20 anos de clínica, não se deu por insatisfação. Pelo contrário, vivia uma época excelente, mas resolvi dar vazão a um antigo sonho de trabalhar com imagem e moda.

A alteração de minha de rota começou em 2014, quando sociedade com um primo lancei uma marca de roupa festa. Empreender foi uma experiência que se tornou o embrião para me decidir pela consultoria de imagem. Desenvolver, criar e lançar coleções, assumindo também a gestão do negócio, foi um grande aprendizado e aproveitei as janelas de oportunidades. Ou seja, cursos, pesquisas de tendências e viagens de trabalho me enriqueceram profissionalmente. Eu estava com 50 anos, disposta a me reinventar e ir atrás dos meus sonhos, sabendo que toda escolha traz renúncias. Então a primeira coisa é entender que sempre perdemos alguma coisa e se perguntar: vale à pena?

Contudo para chegar até a consultoria de imagem, que é minha terceira profissão, precisei abrir algumas gavetas internas em busca dos antigos sonhos, que tinham ficado lá atrás. Que experiência enriquecedora foi retomar memórias da infância como as visitas à loja de meu avô materno, quando me encantava com os tecidos, cores, estampas, texturas. E tinha o brilho dos esmaltes e tinha também o brilho dos meus olhos. Então criança, eu jamais poderia imaginar na época que uma mulher pudesse simplesmente não colocar cores nas próprias unhas! Claro que eu não sabia ainda como nossas escolhas de imagem podem dizer tanto sobre nós, seja revelando, seja escondendo.

Tenho um ‘siricotico’ eterno de querer fazer novas e muitas coisas. Quando a coragem quase me faltou, me lembrei de que o medo não podia ser uma justificativa para deixar de dar vazão e curso aos sonhos. Meu processo de reinvenção profissional está diretamente ligado à minha formação, minhas experiências e minha paixão por gente, imagem, estilo e moda. Não à toa, na adolescência me tornei consultora informal de amigas, tias e primas, desenhando roupas, escolhendo tecidos. E o melhor é que elas gostavam e eu não entendia o porquê, o que sempre foi estranho para mim.

Antes de navegar, sonhar é preciso; mas não vale um sem o outro

Antes de navegar, sonhar é preciso. Tenho isso comigo e funcionou muito bem, já que minha vida profissional foi construída com muito estudo, perseverança, dedicação. Não chegaria à consultoria de imagem se, além do sonho, não tivesse planejado minha carreira na área. Me vi disposta a percorrer novos caminhos, me preparei para isso. Quando me perguntam o que fiz para me dar bem na consultoria de imagem, lembro sempre que cada trajeto é único, mas lembro que “navegar” é planejar, avaliar riscos, conhecer o mercado, se inteirar das possibilidades e se perguntar: como vou me diferenciar? Estratégia, imersão e prospecção me ajudaram a entender, me movimentar e me posicionar sobre o que queria fazer na consultoria de imagem e como chegar lá.

O fato de ter investido em autoconhecimento a vida toda fez uma enorme diferença no meu processo e na minha trajetória profissional. Sem os 25 anos que fiz de análise pessoal talvez não tivesse conquistado meu lugar ao sol na consultoria de imagem. Hoje, atendo clientes pessoais e corporativos, dou mentorias, faço palestras.

Mas o que me diferencia no mercado é o método Interno, que levou para a consultoria de imagem e estilo novas práticas de atendimento. Nos últimos dois anos, os cursos baseados na metodologia, que criei tendo como suporte minha experiência psicanalítica e no comportamento humano, ampliaram a formação de centenas de profissionais de imagem, que adquiriram um novo olhar e várias ferramentas para seus processos de atendimento. Quando comecei na área sabia que eram muitas as possibilidades do mercado e resolvi investir na minha sólida bagagem e formação em psicanálise para desenvolver o método.

O que foi importante para me dar bem na consultoria de imagem? Saiba aqui!

Gosto de desafios, me preparei para minha guinada e me responsabilizei pela minha escolha, da qual não me arrependo, e estou vivendo um ótimo momento profissional. Para quem está pensando em fazer transição de carreira ou mudar sua trajetória profissional, vou dar algumas dicas, lembrando que elas funcionaram para mim, não são um manual de instruções. Mas divido com você dez coisas que me levaram a dar certo na consultoria de imagem e estilo.

  1. Invista no seu autoconhecimento.
  2. Pesquise muito sobre o mercado da consultoria de imagem.
  3. Converse com profissionais da área para descobrir mais sobre meu novo campo de interesse.
  4. Invista na formação técnica fazendo ótimos cursos na área da consultoria e nas transversais, como inovação e moda. Crie também um ambiente de trabalho, caso vá exercer a nova profissão em home office.
  5. Avalie seus interesses e habilidades para a nova área de trabalho e jamais descarte as experiências e habilidades conquistadas anteriormente. Leve para a consultoria sua bagagem profissional e de vida.
  6. Busque estratégias de diferenciação para que seu trabalho ganhe relevância e, ao mesmo tempo, entenda como poderá contribuir para a consultoria de imagem.
  7. Estabeleça metas, porém nunca se cobre além da conta.
  8. Faça um bom planejamento financeiro. Não ter dificuldade de se manter durante o período de transição é importante para não desistir.
  9. Seja realista, mas não deixe que o medo paralise você. As coisas podem dar errado em um primeiro momento e trabalhe considerando essas possibilidades.
  10. Pergunte-se se você sabe e está disposta a lidar com o imprevisível. Por mais completo que seja um planejamento de carreira, podemos topar com obstáculos não calculados no meio do caminho. A pandemia é prova disso. Recalcular a rota em tempo hábil é muito importante e para isso invista também em cultura digital. Cursos on-line exigem novas estratégias de comunicação, de conteúdo, de formato. Quando voltarmos à uma vida mais presencial, muita gente vai optar por modelos híbridos.

“Você não pode mudar o vento, mas pode ajustar as velas do barco para chegar onde quer”

(CONFÚCIO)

Olhe o mundo e olhe para onde o mundo caminha

Quais são os movimentos do mundo, as mudanças em curso, os paradigmas que estão sendo quebrados? Me pergunto sempre, e tento não perder de vista essas questões: Como me sinto em relação a novas rotas? Estou aberta e flexível para me adaptar, fazer alterações, rever conceitos? Acompanho, reflito e sempre questiono que mundo é esse? Quem sou eu nesse mundo? Nunca me permiti o lugar de quem tudo sabe, sempre me pensei sobre os rumos do meu trabalho e não é diferente na consultoria de imagem. Compartilho meus conhecimentos e experiências, sem ficar ensimesmada nos meus saberes ou ter tudo como verdade absoluta.

O desafio de encarar uma nova profissão faz parte do meu cotidiano e do dia a dia de muitas mulheres na contemporaneidade, que como eu ousaram dar uma guinada na vida pessoal e profissional. Começar em uma nova profissão ligada à imagem, estética, e de certa forma à beleza, me pareceu que seria um caminho com muitas pedras. Mas me surpreendi ao perceber que meu trabalho logo começou a inspirar colegas da minha faixa etária, bem como as consultoras de imagem mais jovens. Esse é um assunto relevante para mulheres de qualquer idade, porque muitas de nós deixam de se reinventar profissionalmente com medo de não ser aceitas no mercado de trabalho, mesmo com nossas competências.

Minha biografia profissional sofreu uma revolução em oito anos e hoje me sinto confortável com minha decisão, cheia de energia, ideias e com muitos projetos em andamento. Sigo estudando, ampliando meus horizontes humanos, culturais, intelectuais e fiz da minha idade um facilitador. Das minhas experiências um aprendizado para lidar com eventuais dificuldades. Aprendo com acertos e erros, sem abrir mão do que considero inegociável: meu compromisso com a autenticidade, respeito às singularidades de cada pessoa e a riqueza da diversidade. Isso, posso dizer com a maior alegria, se reflete no meu trabalho. O que quero é ir além do óbvio. E você?

Miriam Lima

Miriam Lima

“Luto por um mundo mais justo e humano e ensinei isto a meus filhos. Determinação e persistência são características das quais me orgulho. Acredito que as mulheres são várias, mas também únicas, daí que dedico meu trabalho a cada uma delas e como todas nós algumas vezes ‘enlouqueço’ com as dinâmicas da vida. Escrever neste espaço sobre imagem pessoal, inconsciente, estilo, comportamento, humanidades me enche de alegria” PS – “LEVEI UMA VIDA PARA ME SENTIR BEM NA PRÓPRIA PELE”