A consultoria de imagem se expande em números e possibilidades. Como representante da Federação Internacional de Profissionais de Imagem em Minas Gerais (FIPI-MG), observo um fluxo crescente de profissionais nos eventos e, com eles, novas perguntas em torno de nossas práticas e metodologias. Ainda bem! Afinal, tecnologias como redes sociais, Big Data e Inteligência Artificial têm transformado a maneira como nos relacionamos com a imagem e com a moda.
O Fashion ++, criado por pesquisadores da Universidade do Texas, da Cornell Tech, da Georgia Tech e do Facebook AI Research, por exemplo, utiliza inteligência artificial para fazer sugestões de estilo. O modelo analisa imagens postadas por produtores de conteúdo da área para traçar sugestões inteligentes no guarda-roupa do usuário. E, apesar de ser uma tecnologia criada por pesquisadores reconhecidos, o Fashion ++ já tem seu código aberto disponível.
Considerando esse contexto, será que ainda faz sentido discutirmos à exaustão temas como coloração pessoal, estilo, identidade visual e tendências nos mesmos moldes de 5, 10 ou 15 anos atrás? Com isso, não quero prescindir desses assuntos, afinal, eles compõem o escopo do nosso trabalho diário. Contudo, acredito que precisamos pensá-los à luz das demandas da contemporaneidade para entendermos o que está em nosso futuro.
O excesso de técnicas no contexto da quebra de padrões estéticos
A diversidade ganha passarelas, ruas, produções audiovisuais, red carpets e muitos outros espaços. Exigindo mais transparência das marcas, nunca discutimos tanto a importância da representatividade nas campanhas de moda e beleza. E ai de quem se limitar a discursos levianos! O caso da Victoria’s Secret é emblemático. No início de 2019, a fabricante americana de lingeries anunciou o fechamento de mais de 50 lojas. O valor das ações da L Brands, proprietária das linhas Victoria’s Secret e Bath & Body Works, caiu 41%.
E se no discurso publicitário a pauta parece um tanto mais resolvida, no dia a dia e no feed do Instagram, percebo que poucos profissionais de imagem e marcas de moda parecem realmente capacitados e dispostos a acolher e instigar a diversidade. Nesse sentido, precisamos repensar, até mesmo, os conteúdos técnicos que aprendemos em nossas formações. Muitos profissionais parecem obcecados pela ideia de fazer com que seus clientes pareçam sempre mais magros e altos.
Mesmo quando o cliente manifesta que não gosta de imposições, o consultor insiste em trazer seus ideais e valores. É como se não pensasse que essas regras levam o cliente a entender que deve sempre perseguir um padrão corporal e comportamental, o que é bastante degradante para a saúde mental e também a física, já que pode levar a dietas e procedimentos que comprometem o funcionamento orgânico.
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Faça uma breve observação dos consultores e empresas que você segue em suas redes sociais.
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Qual é a proporção de imagens de mulheres brancas, jovens e magras?
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E qual é a proporção de mulheres negras, gordas, mais velhas ou com algum tipo de deficiência?
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Quais são os discursos veiculados com essas imagens? Quais são as pessoas que interagem com esses conteúdos?
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Será que nós, consultores de imagem, estamos preparados para ir além do padrão?
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Como nós, consultores, podemos ajudar nossos clientes a se vestirem do que são? É hora de escutá-los atentamente.
Consumo consciente traz novas possibilidades à consultoria de imagem
Um número crescente de pessoas se conscientiza sobre seu impacto no meio ambiente. E, para mudar seus hábitos de consumo, elas buscam recorrer a uma série de alternativas. Um gráfico veiculado pelo Business of Fashion apontou que o mercado de roupas de segunda mão deve quase dobrar até 2023. Para nós, consultores de imagem, essa é uma excelente notícia.
Ajudar o cliente a consumir de uma maneira mais responsável é uma das maiores contribuições que o consultor de imagem pode oferecer hoje. Indicar lojas que dialoguem com os valores do cliente, ajudar na adaptação de peças, a encontras roupas em feiras locais e brechós são apenas algumas das possibilidades que se apresentam em nosso horizonte.
Para prestar um bom atendimento nesse contexto e promover reais mudanças, o consultor precisa entender as questões emocionais envolvidas em comportamentos consumistas e atitudes de apego. Embora o consultor não seja um psicólogo, ele precisa de ferramentas para auxiliar o cliente nesse processo.
Autoconhecimento é uma ferramenta indispensável na era da personalização
O “vestir-se de si mesmo” veio para ficar. Como psicanalista, acredito que para acessarmos a subjetividade das pessoas e ajudá-las a ter uma expressão mais autêntica, precisamos nos conhecer profundamente. É por meio do autoconhecimento que vamos além do objetivo, acolhendo a diversidade de comportamentos que formam a imagem e compreendendo o impacto de fatores inconscientes na expressão visual de nossos clientes.
Que o cliente deve estar no centro do trabalho, todo mundo sabe, mas será que estamos realmente preparados para isso? Uma consultoria humanizada exige que o consultor abdique de seu narcisismo e busque o autoconhecimento, aspecto que precede a técnica. Por meio dessa escuta aguçada e empática, podemos compreender a história de vida do cliente, garantindo que nosso trabalho não se perca em fórmulas genéricas.
O futuro da consultoria da imagem, como você pode compreender, é promissor. Na era da quebra de padrões, da inteligência artificial e da transparência, não há um manual de instruções que ampare a expressão visual das pessoas ou discurso vazio que se sustente. A capacitação técnica é necessária, mas sem a escuta, elas serão apenas regras jogadas ao acaso, incapazes de trazer satisfação e de ajudar verdadeiramente os nossos clientes.