O que é estilo? Muitas vezes, clientes da consultoria de imagem não só me indagam sobre isso, como se sentem perdidas em meio a tantos conceitos e definições envolvendo a imagem pessoal. Diante de uma avalanche de informações, somadas às exigências da vida, muita gente, quando se dá conta, o reflexo que vê no espelho parece familiar e ao mesmo tempo estranho. Fica difícil elaborar o próprio estilo quando nos distanciamos mais e mais de quem somos. Ou seja, como ter e comunicar uma expressão visual autêntica sem o entendimento de quem somos? Como nós, profissionais de imagem, lidamos com tais questões? Dá para iniciar um processo de trabalho sem passar por esses impasses?

Na minha prática de atendimento, nunca deixo em reserva ou passo por cima dessas questões da cliente. E tento me adequar ao ritmo e ao tempo dela para escutar suas demandas e expectativas com a consultoria de imagem. A afirmativa de que “não tenho estilo” é recorrente em nosso trabalho. Quem, entre nós, já não atendeu alguém que se sente desprovido de estilo e que anda à procura do seu para expressar sua identidade?

Nem sempre dá para resolver os problemas da cliente a partir do que existe de pronto, como o conceito dos sete estilos universais, lançado nos anos 1980 por Alice Parsons, autora de “Style Source”, contribuição que foi um marco na nossa área, e que desde então foi adotado como ferramenta pelo profissional de imagem para mapear estilos. Não que os enunciados não sejam mais úteis ou que não possa me valer deles. Na verdade, me questiono a respeito da aplicação dessas classificações em meu trabalho, e considero algumas outras possibilidade com mais alcance, entre elas, a dos universos visuais de estilo, adotado por muitos consultores no Brasil.

O “estilo elegante”, por exemplo, contempla hoje o que entendemos como elegância? Ou seja, alfaiataria seria sempre elegante? Pulôver com jeans, não? Quantas pessoas, que transbordam savoir-vivre, que inspiram e são referências para outras, adotam estampas ao invés dos incensados tons neutros? A elegância tem menos a ver com roupa, cores, padronagens, e mais com o jeito como usamos e nos sentimos com determinadas peças, exalando aquele estar à vontade na própria imagem. De camiseta ou vestido de seda pura. Porém sem conhecer um pouco mais a fundo a cliente fica difícil transitar por conceitos de mapeamento de estilo, independentemente de quais sejam. Sem ir além das aparentes escolhas de imagem da cliente, e sem entender seu momento de vida, não há como avançar no processo de consultoria, menos ainda estabelecer e propor uma identidade visual genuína.

O estilo é como um texto sobre quem somos, que será lido pelo mundo

Na consultoria de imagem trabalho como catalisadora do processo, que deve ser conduzido pela cliente. Não é possível criar ou determinar um “estilo” para a cliente. Minha função é ajudá-la a entender seu estilo, apurando-o para tirar o melhor proveito dele. E mostrar que os recursos para isso estão na própria história da pessoa, que estilo é como exteriorizamos nossa subjetividade, uma espécie de texto sobre quem somos, que será lido pelo mundo, e deve comunicar autenticidade. Vale lembrar que a imagem está ligada ao autoconhecimento de si e não será autêntica sem isso. Somos seres sociais, e ter estilo é transitar no coletivo, mantendo nossa singularidade, o que não é pouca coisa.

Vestir-se é muito mais do que escolher uma peça de roupa, sapato, acessórios. O que coloco para minha cliente às voltas com impasses sobre o próprio estilo é que precisamos ter um olhar mais empático para nós mesmas. Com isso, encontramos recursos para expressar, de dentro para fora, uma identidade visual mais genuína. Afinal, quando estamos distantes de nós, tendemos a nos comparar, nos tornarmos cada vez mais inseguras, comunicando uma imagem que diz muito pouco ou nada sobre nós.

“Nossa vestimenta revela muito de como nos sentimos em relação a nós mesmos e oferece um vislumbre de nossos desejos, nossas fantasias e nossos valores”

(TOBY FISCHER-MIRKIN: O CÓDIGO DE VESTIR: OS SIGNIFICADOS OCULTOS DA ROUPA FEMININA)

ROUPA! QUE ROUPA?

  • Estilo tem muito mais a ver com a vida real, nossas experiências, memórias e gostos do que a mera escolha de um determinado tipo de roupa. Ter estilo é nos vestir de acordo com nosso gosto, preferências, humor, modo de ser, de viver e até nossas fantasias.
  • A roupa, na qual se insere a moda, é uma ferramenta para tornar tangível quem somos e como queremos ser vistos. Mas, como sabemos, vai muito além do que vestimos!
  • Nossas escolhas de imagem incluem nossos ornamentos: de acessórios ao cabelo, maquiagem, tatuagens (ou não). Os discursos não verbais são cada vez mais entremeados pelas ideias que expressamos e pela forma como nos comunicamos com nosso discurso, atitudes, comportamento.
  • Estilo não é um hábito ou rótulo fixo. E podemos ajudar a cliente a entender, e descobrir, que estilo não é usar sempre a mesma cor ou tipo de peça, por exemplo. Variar não é perder o estilo e pode ser imensamente prazeroso e divertido.
  • Significa que temos a capacidade de às vezes nos surpreender visualmente e continuar nos reconhecendo.
  • Mesmo que vestidos e saias sejam peças preferidas, usar uma pantalona não significa uma quebra da imagem, despersonalizando o estilo pessoal. Ao contrário: seguir modelos padronizados, impondo rígidas regras de vestimentas a nós mesmas, pode se tornar fonte de insatisfação e frustração.
  • Lidar com essas questões exige estratégias a abordagens que acontecem de pouco em pouco, e a escuta atenta da cliente, um dos pilares da minha metodologia Interno, faz uma enorme diferença durante todo o processo.

Plataformas ajudam a renovar o olhar e ampliar nosso repertório

Imagens do Pinterest: inspiração de estilo fora de caixinhas e padrões
Site The Sartorialist, de Scott Schuman, nas ruas do mundo estilo e possibilidades

Estilo não está ligado à idade, corpo, raça. E plataformas como o Pinterest ajudam a demolir esses questionáveis padrões estéticos e etários, ainda tão referenciados. Sites como o The Sartorialist, criado por Scott Schuman há 20 anos, que começou clicando pessoas nas ruas de Nova York, em pouco tempo tornou-se, e continua sendo, referência de street style. O pulo do gato do fotógrafo foi mostrar com seus flagrantes que estilo se articulava com gente fora do mainstream da moda, o que na época foi um marco. São espaços a um toque do mouse que ajudam a renovar nosso repertório todos os dias, assim como o fazem as modelos e influenciadoras que aos 50, 60, 70 anos ou mais, que inspiram outras mulheres, e revelam as possibilidades de ser e viver muito além de rótulos e estereótipos de beleza.

Como nos apropriar de nossa expressão mais autêntica?

Estilo acompanha os pensamentos, o jeito de ver o mundo e referências da pessoa. Portanto, muda e evolui junto conosco, pense que estilo é movimento. Desde que estejamos abertas ao novo, o estilo pessoal também estará, entretanto, nos apropriar de nossa expressão visual mais autêntica não se dá sem o autoconhecimento. Autenticidade na imagem não é algo fácil, que se resolva com compras e frases motivacionais bonitas. A busca pela autenticidade nos leva a questionar velhos hábitos e padrões antigos. Mas certamente os resultados de um olhar interno para o estilo pessoal compensam as dificuldades iniciais, olhar, como tenho frisado, que depende do atravessamento das questões e dos conflitos existenciais.

Um guarda-roupa e uma aparência mais coerentes com o jeito da cliente, conectado aos interesses, valores e gostos dela, assim como as suas necessidades, será sempre resultado de uma consultoria de imagem que se vale de processos humanizados. Não dá para pegar atalhos na humanização do atendimento, impondo escolhas ao cliente, e varrendo para debaixo do tapete suas vulnerabilidades em relação à autoimagem.

Eu me valho das técnicas e as utilizo como parte do percurso, quando entram em cena aspectos funcionais da consultoria de imagem. Não antes! Por isso, tenho para mim que estilo pessoal é conquista, só possível quando a pessoa já trilhou um certo caminho a ponto de se sentir confortável na própria pele. Como afirma Glória Kalil em Chic: “Mais do que o ato de escolher, quem tem estilo faz um depoimento de si mesmo, com toda nitidez”. E estilo pode ser descoberto, apurado e vivido por todo mundo. Desde que se tenha interesse, disposição e entusiasmo para tal.

Quer conversar mais sobre assuntos que estão no radar da consultoria de imagem e como nós, profissionais da área, podemos tornar mais relevante nosso trabalho? Acompanhe as postagens no meu Instagram e as lives semanais, sempre com temas que ajudam a ampliar nosso olhar e refinar nossas práticas de atendimento. Te espero lá!

Miriam Lima

Miriam Lima

“Luto por um mundo mais justo e humano e ensinei isto a meus filhos. Determinação e persistência são características das quais me orgulho. Acredito que as mulheres são várias, mas também únicas, daí que dedico meu trabalho a cada uma delas e como todas nós algumas vezes ‘enlouqueço’ com as dinâmicas da vida. Escrever neste espaço sobre imagem pessoal, inconsciente, estilo, comportamento, humanidades me enche de alegria” PS – “LEVEI UMA VIDA PARA ME SENTIR BEM NA PRÓPRIA PELE”