No mundo da moda, a diversidade virou a prata da casa. Nunca discutimos tanto a importância da representatividade nas campanhas. Marcas que não acompanham as discussões têm a sua reputação questionada, como é o caso da Victoria’s Secret. Para se ter uma ideia, a fabricante americana de lingeries anunciou, no início de 2019, o fechamento de mais de 50 lojas. O valor das ações da L Brands, companhia que detém as linhas Victoria’s Secret e Bath & Body Works, caiu 41%. Mas, se no discurso publicitário a pauta parece um tanto mais resolvida, no dia a dia poucos profissionais de imagem e marcas de moda parecem capacitados para acolher e instigar a diversidade.
Para fortalecer expressões autênticas e diversas, precisamos, primeiro, ampliar nossas perspectivas. A consultoria de imagem ainda conta com diversos profissionais que, por uma série de questões, ainda não tiveram contato com questões como o racismo, o capacitismo (preconceito contra pessoas que têm algum tipo de deficiência), entre outros tipos de preconceitos.
A falta de experiência, contudo, não pode ser desculpa para não sairmos da nossa bolha: para que você efetivamente ajude seus clientes e exerça um trabalho de impacto positivo, é preciso ter os ouvidos atentos e expandir seu repertório. A internet conta com uma série de plataformas com informações úteis e pessoas que compartilham suas experiências, como é o caso de Ju Ferraz, colunista da Vogue, e da socióloga Djamila Ribeiro, da Marie Claire.
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No início de setembro tivemos o Dia do Gordo.
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Para mim, foi uma excelente oportunidade para ler relatos de pessoas e repensar padrões de comportamento que sustentam a gordofobia.
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Para quem não sabe, a gordofobia é o ato de julgar uma pessoa inferior ou desprezível pelo tamanho do corpo que ela tem.
Entenda como a gordofobia se manifesta e é normalizada
Eu me pergunto quantos consultores de imagem estão preparados para atender clientes gordos sem impor combinações que tenham como objetivo deixá-los com aparência mais magra ou esguia. Isso para não mencionar as antigas regras que restringem certas padronagens porque elas aumentariam o volume do corpo. O corpo gordo está sempre sendo cerceado para parecer algo que não é, como se ele fosse algo inacabado. Uma pessoa gorda não tem de estar sempre a caminho de perder quilos. Ela pode ser perfeitamente feliz e saudável como é.
Assim como o racismo, a gordofobia se manifesta também em atitudes sutis, ainda normalizadas por uma cultura que incensa a magreza. Expressões como: “linda de rosto”, “gordice”, “olho gordo”, além da excessiva “preocupação” com a saúde de pessoas gordas (vigilância essa que não se aplica às magras) somente contribuem para a perpetuação de estigmas e para que a beleza dessas pessoas não seja reconhecida. Eu mesma tenho me mantido vigilante quanto ao meu vocabulário e minhas atitudes.
Quanto mais leio sobre o assunto, mais me assusto com a falta de representatividade que os corpos gordos têm no mundo da moda ou na consultoria de imagem. Até mesmo nas redes sociais, que deveriam ser um espaço mais democrático, as reações de ódio se misturam à confusão dos algoritmos, que, recentemente, têm banido fotos de mulheres gordas nuas ou parcialmente nuas. É preciso que haja um esforço coletivo para mudarmos esses e outros paradigmas. Estejamos atentos!
Consultoria de imagem além da técnica e o autoconhecimento
Revistas e programas de “transformação” popularizaram a ideia de que, para nos vestirmos bem, basta conhecermos e aplicarmos algumas regras. Se você não se encaixa nesse manual de instruções, não tem a menor aptidão para conquistar o que há de melhor na vida. Infelizmente, essas ideias afetam bastante o trabalho de consultores de imagem, não só no âmbito da formação, que tende a ficar excessivamente técnica e pouco empática, quanto os clientes, que se sentem intimidados pela imposição de regras.
Por isso, é tão importante que os consultores e demais profissionais da imagem invistam em conhecer a natureza humana, indo muito, muito além da técnica. Entre as diversas ferramentas para isso, está o autoconhecimento.
Para a nossa alegria, o “vestir-se de si mesmo” veio para ficar. Como psicanalista por formação, acredito que somente ao nos conhecermos profundamente ganhamos recursos para acessar a subjetividade de outras pessoas. É pelo autoconhecimento que vamos além do objetivo, entendendo o impacto de fatores inconscientes na expressão visual de nossos clientes e acolhendo a diversidade de comportamentos e atitudes que formam a imagem.
Para conhecer um pouco mais sobre a relação entre o autoconhecimento e a consultoria de imagem, convido que você me siga no Instagram e acompanhe a minha agenda de cursos. Ficarei muito feliz em trocar ideias. Afinal, cada encontro é uma oportunidade para expandir repertórios! Vamos nos esforçar, juntos, por uma consultoria de imagem mais inclusiva, capaz de acolher a autenticidade e a diversidade de nossos clientes?