Quinze de outubro é o Dia do Consumo Consciente. Não por acaso, aqui no Brasil, na mesma celebramos também os professores. Em tempos de colapso climático, as duas comemorações se inserem no contexto de reflexões das novas perspectivas sobre o impacto que causamos ao nosso redor e os anúncios publicitários, que ainda nos impulsionam a comprar mais e mais. Portanto, consumir de maneira consciente é um aprendizado contínuo.
Sempre foi uma apaixonada por moda e, como mandava o roteiro, sentia que precisava de muitas e muitas roupas para se expressar. Acompanhar as tendências era uma verdadeira caça ao tesouro, e ai de quem ficasse para trás! Felizmente, esse comportamento ficou no passado, para sossego do meu cartão de crédito e da minha mente. E o autoconhecimento foi um ingrediente fundamental nesse processo.
Como nós, consultores de imagem, podemos colaborar para disseminar o consumo consciente entre nossos clientes e ajudá-los a vencer transtornos de compras compulsivas? Acompanhe o post!
Conhecer-se mais profundamente para se conectar ao que importa
Em minha trajetória na psicanálise e na consultoria de imagem, observei um padrão: aqueles que manifestam comportamentos de compra fora da curva (comprando em excesso ou não se dando o direito de adquirir nada) têm uma grande probabilidade de ter uma insatisfação pessoal de nível inconsciente. Para fins práticos, me centrarei nos casos de pessoas consumistas.
É comum que elas tratem as compras como uma forma de compensação. Com blusas, sapatos e bolsas vão tentando preencher os vazios e o mal-estar inerente do ser humano. O problema é que, aos poucos, essas pessoas vão deixando de enxergar satisfação em outros aspectos da vida. Segundo um estudo do Programa para Compradores Compulsivos do Pró-Amiti e divulgado pela USP, cerca de 5% da população geral já manifesta o transtorno da compra compulsiva, conhecido como oniomania.
Quando o indivíduo busca, no exterior – ou seja, na forma de se apresentar ao outro, no consumo, entre outros –, elementos para mostrar e valorizar suas características, ele se torna mais susceptível ao consumo excessivo, na busca eterna de lapidar suas características individuais e valorizar o seu eu. Essas pessoas são mais frágeis emocionalmente, pois não há como se conhecer e aprender a lidar consigo quando estamos, todo o tempo, olhando “para fora”. Por isso o autoconhecimento é um ingrediente tão importante para lidarmos com comportamentos excessivos e fazermos as pazes com o que somos. Em casos extremos, como é o caso da oniomania, esse processo precisa ser acompanhado de ajuda psicoterápica e médica.
COMO O CONSULTOR PODE INCENTIVAR O CONSUMO CONSCIENTE?
Para ir além do discurso e do greenwashing (“lavagem verde”, uma forma de enganar o consumidor com argumentos pseudo-sustentáveis para a venda de produtos), o consultor de imagem pode auxiliar o cliente com alguns recursos relativamente simples.
1
ESTIMULE A COMPRA EM BRECHÓS – Você nem sempre precisa de algo novo para ensinar algo ao cliente. Em termos de guarda-roupa, não tem nada mais sustentável do que reaproveitar e lançar novos olhares sobre uma peça que já existe. Nos brechós, encontramos excelentes peças por preços acessíveis, o que faz com que o ciclo de uso delas aumente significativamente.
2
PROPONHA UMA REFORMA DE PEÇAS E NOVAS COMBINAÇÕES – Também é importante que o consultor ajude o cliente a lançar um novo olhar sobre o que ele já tem no guarda-roupa. Muitas vezes, tudo o que uma peça precisa é de uma boa reforma ou das combinações certas para retomar o seu brilho e amparar a expressão autêntica de quem a veste.
3
INVISTA EM PEÇAS ATEMPORAIS – Tendências de moda são divertidas, mas incorporar todas elas no guarda-roupa é insustentável, do ponto de vista financeiro e ambiental. Por isso, o ideal é que o cliente conte com um bom acervo de peças atemporais de qualidade, capazes de participar de diversas combinações por muitas, muitas temporadas.
4
CADA CLIENTE, UMA DEMANDA – O atemporal varia de pessoa para pessoa. Uma mãe pode precisar, e usar mais, blusas em malha e com boa elasticidade. Uma atleta se sairá bem com peças mais esportivas. Já alguém que trabalha em um escritório necessitará de mais camisas e blazers de boa qualidade, por exemplo. O importante é que essas roupas durem diversas estações, mantendo a qualidade e o carinho de quem as usa.
O que há por trás do lugar comum do ‘não tenho o que vestir’?
Não acredito em uma consultoria de imagem que não envolva uma investigação profunda sobre o cliente. E essa investigação não passa apenas pelo repertório do consultor e para não cair em achismos e mal-entendidos é preciso que o cliente tenha uma participação ativa nesse processo. Ou seja, ao longo dos encontros com o cliente, precisamos exercer uma escuta atenta (que é bem diferente do apenas “ouvir”), capaz de transformar as afirmativas dele em perguntas.
Já perdi a conta de quantas vezes, ao ouvir minhas clientes dizerem que “não têm nada para vestir”, devolvi a pergunta a elas e deparei-me com uma expressão de espanto. Quem é que, com um poder de compra razoável, não tem nada para vestir? É preciso investigar o que há por trás desse lugar comum! O papel do consultor é guiar o cliente nessa investigação, de modo que ele possa entender quais são suas questões e como expressá-las de uma maneira autêntica e coerente.
OUTROS RECURSOS QUE SÃO TAMBÉM DE GRANDE AUXÍLIO
- Investir em acessórios, que trazem versatilidade e fartura ao guarda-roupa.
- Incentivar a compra de peças de marcas alinhadas a ideais de sustentabilidade.
- Fomentar a produção local, escolhendo peças de criadores locais.
- Não fazer compras quando o cliente manifesta humor alterado. Afinal, é comum comprarmos mais (e de maneira impulsiva), quando estamos tristes ou eufóricos.
- Conferir as informações da etiqueta e aprender dicas de conservação, de modo que o cliente possa aumentar a durabilidade das peças.
- Todas essas atitudes, porém, precisam ser aliadas a uma escuta atenta do cliente e ao autoconhecimento. Afinal, se o cliente não perceber quais são as questões que o levam a um comportamento consumista e desalinhado, pouco tempo depois de encerrada a ele volta a manifestar os comportamentos danosos a si mesmo e ao meio ambiente.