Estamos inquietos. Como boa parte dos colegas que compõem a indústria da moda e a comunidade empreendedora de nosso país, frequentamos cursos, palestras, workshops e toda sorte de eventos que nos permitem entender melhor pelo que estamos passando. O que tenho concluído, contudo, é que por mais que apliquemos investimentos em cursos e livros caros, a compreensão dos desafios da contemporaneidade passa, primeiramente, por um olhar atento.
Giorgio Agamben é filósofo, professor da Universidade de Veneza e se mune da teoria da linguagem e da estética para entender a contemporaneidade. Seus textos mais famosos datam de 2006, 2007 e 2008, sendo que uma de suas declarações mais difundidas é a de que a contemporaneidade é uma “singular relação com o próprio tempo”. Para esse pensador, para compreender a época em que vivemos precisamos dar um passo além do presente.
É comum que as pessoas pensem que o contemporâneo é aquele que adere ao seu próprio tempo sem qualquer atrito, como as fashionistas, que estão sempre em dia com as últimas tendências. Porém, para Agamben, citando Nietzsche, aqueles que não se adequam perfeitamente ao seu tempo ganham distanciamento para compreendê-lo melhor.
Relação com o presente e distanciamento crítico sobre a própria época
Esse olhar distanciado sobre o presente, contudo, jamais é alheio. Um contemporâneo não é aquele sujeito nostálgico, que está sempre desejando viver em outro tempo. Ele tem uma relação com a época em que vive, mas distanciando-se o suficiente para ver seus aspectos bons e os mais sombrios.
Como pontua esta resenha da Revista Subjetiva – “para a astrofísica contemporânea o escuro que enxergamos ao observar o céu noturno nada mais é do que a luz que não pode nos alcançar, ainda que sua viagem em nossa direção seja incansável. Isso porque ela provém de galáxias que se distanciam de nós a uma velocidade superior à da luz. O presente é como essa luz. O presente nunca pode nos alcançar.”
Para ter um olhar renovado, é preciso, portanto, estabelecer novas perspectivas sobre o passado e o presente, o que só pode ser alcançado com uma ruptura no agora. É preciso ser crítico, sem deixar a empatia de lado. Mas o que poderia incentivar esse gesto, na prática, especialmente no contexto do empreendedorismo?
Para empreender é preciso saber quais as reais demandas do seu público, o que passa pela imagem
Acredito que um olhar aguçado só se desenvolve com uma curiosidade genuína. É preciso entender, empaticamente, o que ocorre nas mais diversas partes da cidade, no mundo das artes, da ciência, da gastronomia, da política e da economia. É necessário dialogar com os mais conceituados teóricos e com o que ocorre agora também nas ruas repletas de grafite. Não podemos nos limitar a relatórios de tendências, especialmente quando não entendemos as reais demandas do público e quais benefícios podemos oferecer diante dessas necessidades.
Quando enriquecemos o olhar e a escuta, paramos de replicar discursos que pouco têm a ver com a identidade da empresa e de nossos clientes, e buscamos valores que sejam genuínos. Aguçar os sentidos nos permite encontrar referências coerentes, bem como desenvolver um trabalho mais respeitoso com nossas propostas e com as intenções do cliente ou de seu público. Com esses ingredientes, seu empreendimento constrói uma base sólida para enfrentar os desafios do presente e as incertezas do futuro.
PENSE SOBRE ISSO
- Adentrar a contemporaneidade e se movimentar por esse novo mundo se estende ao âmbito da imagem, tão importante em nossos tempos.
- Afinal, assim como os discursos infundados rapidamente são desmascarados com algumas buscas pelo Google, uma imagem incoerente também pode ser desconstruída e igualmente prejudicial.
- É preciso alinhar valores, discursos e referências, o que envolve não só ouvir os burburinhos do presente, mas também o que o passado tem a responder sobre o agora.
- Mas não se assuste: um estudo interno é o ingresso para essa verdadeira viagem no tempo!
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