Colocar uma mochila nas costas e conhecer o mundo. Fazer uma segunda faculdade. Aprender um novo idioma em um intercâmbio. Tentar um novo trabalho em uma área completamente diferente daquela em que você se formou. Experimentar tendências no guarda-roupa. Tomar um bom drink com uma turma de vinte e poucos ou trinta e poucos anos.
Há alguns anos, tudo isso era tido como impensável para pessoas com mais de 40 anos de idade, especialmente para mulheres. Contudo, e ainda bem, mais pessoas passaram a repensar essas categorias que tanto sufocam as nossas expressões mais autênticas. Surgiu, então, o conceito de Perennials, e junto dele, uma nova forma de encarar a idade.
Será que o mercado está realmente preparado para pessoas que jogaram estereótipos de idade pelos ares? Mais importante: como a consultoria de imagem pode se preparar para lidar com essa nova lógica de pensamento? É o que vamos discutir neste post!
QUEM SÃO OS PERENNIALS?
- Diferentemente dos Millenials, o termo “Perennials” não se refere a uma geração, mas a pessoas guiadas por mindset. Trata-se de uma tendência de comportamento observada em gente que, independente da idade, interessa-se por tecnologia, busca trabalhar com o que acredita e dialoga com pessoas de diferentes gerações.
- O termo foi criado por Gina Pell, empresária de tecnologia que se frustrou ao ver como as pessoas segregavam pessoas de uma certa idade, acreditando que elas só poderiam sair com gente que tivesse a mesma faixa etária.
- No artigo em que defende o conceito de Perennials, ela utiliza a imagem de Lady Gaga (33) e Tony Bennett (93), que, segundo ela, apesar das idades tão distintas, teriam muito mais em comum do que dois millenials escolhidos aleatoriamente.
- Embora a intenção de Pell fosse construir um conceito alternativo aos Millenials, o termo, como explicamos antes, diz mais sobre uma lógica de pensamento do que sobre um fenômeno geracional. Ele não é sobre uma noção cronológica, mas sobre uma identidade social. “A idade”, segundo a empresária, “não é mais do que um número.”
- Pessoas de todas as idades podem ter comportamentos relacionados ao que se atribui aos Millenials: o entusiasmo pela tecnologia, a popularização de tópicos relacionados a Ciências Humanas, a constante busca por novidades e experiências, a valorização da diversidade, entre outros.
- Isso significa que, independentemente da idade, as marcas precisam lidar com pessoas que têm baixa fidelidade em relação a produtos e serviços e se predispõem a experimentar mais, inclusive no âmbito dos relacionamentos e das expressões visuais.
75 anos
É a idade de Lauren Hutton, que nasceu em 17 de novembro de 1943, atriz e modelo com uma das carreiras mais singulares nas indústrias da moda e da beleza. Ela foi a primeira modelo a ter um contrato escrito com uma marca de cosméticos. Em 1973, assinou com a Revlon, que pagou US$ 250 mil anuais pelas campanhas. Mas quando fez 41 anos, em 1983, foi dispensada. Alegação? Mulheres com essa idade não usavam mais maquiagem. Só que Lauren, que já tinha revolucionado padrões com sua beleza até então considerada imperfeita, continua até hoje protagonizando campanhas e desfilando. Neste ano esteve na passarela Valentino e foi clicada para campanha da Bottega Veneta. Em 2017 fotografou para a lingerie Clavin Klein
Novos papeis da mulher e a obsolescência do conceito de meia-idade
A SuperHuman, produtora de Londres especializada em conteúdo feminino, afirmou que, especialmente entre mulheres, o conceito de meia-idade já é obsoleto, fazendo com que o termo “ageless” ganhasse uma grande popularidade. No estudo, um terço das entrevistadas acreditavam estar no auge da vida, e 67% afirmavam se sentir mais confiantes do que estavam há dez anos. Os dados foram divulgados pela Marie Claire.
Os termos “ageless” e “perennials” estão intimamente relacionados. O primeiro fala sobre uma geração de pessoas cujo estilo de vida agrega hábitos, visões e gostos de diversas idades. O segundo denomina a lógica de pensamento que conecta essas pessoas. Ambos os conceitos ganharam projeção por causa de mulheres que, graças aos movimentos sociais que buscam por mais equidade de gênero, levantam-se todos os dias para dizer “não” a estereótipos, repensam seus papeis na sociedade e inspiram cada vez mais pessoas nas redes sociais.
Embora haja maior procura por tratamentos de beleza que busquem retardar o envelhecimento, há também um movimento crescente de mulheres que estão plenas com a própria idade. E se as rugas estiverem lá, elas serão abraçadas como um charme a mais.
O mercado, contudo, não parece devidamente preparado para abraçar todo o potencial dessas mulheres: a publicidade ainda se ampara bastante nas imagens de modelos mais novas e com um certo tipo de corpo (magro, esguio, branco), o que restringe o repertório imagético do público. Consequentemente, as pessoas permanecem com a noção equivocada de que rugas, cabelos brancos e a flacidez precisam, necessariamente, serem escondidos. É preciso ir além da técnica e dos estereótipos, inclusive na consultoria de imagem.
A consultoria de imagem também precisa repensar seus conceitos
O movimento “ageless” e a vinda dos Perennials é liderada por mulheres que têm mais de 40 anos de idade e, ao contrário do que dizem os estereótipos, são donas de si e das próprias narrativas. Elas não têm medo de mudar de carreira, repensar relacionamentos e experimentar novas peças. Portanto, não espere que elas se curvem a qualquer consultor de imagem “metido à besta” que queira lhes dizer o que vestir ou o que não vestir!
Passamos por grandes mudanças de paradigmas nos últimos anos. É inegável que há um grupo crescente de pessoas que não se define por gênero, classe socioeconômica e idade. Diante disso, é preciso que busquemos entender as pessoas e suas individualidades para além dessas pré-categorias. Ou seja, é preciso desenvolver novas propostas de trabalho com base em uma escuta atenta às subjetividades de cada pessoa.
Para atender um cliente que busca, cada vez mais, por uma expressão autêntica em qualquer fase da vida, é preciso que a consultoria de imagem se apoie na escuta e na valorização da subjetividade. É o cliente, e sempre ele, que cria as demandas do consultor de imagem. Isso significa que nossos truques de styling precisam ser mais inclusivos e diversos, o que nos exige ampliar nossos repertórios para entendermos o que favorece cada tipo de corpo sem escondê-lo.
Para oferecer uma consultoria de imagem alinhada às novas demandas do mercado, e que realmente proponha uma experiência rica para os clientes de todas as idades e biotipos, valorizando as suas expressões autênticas, é preciso desenvolve nosso poder de escuta, uma habilidade que pode ser fortalecida com o autoconhecimento. Se você se interessa pelo assunto, acompanhe no @interno.miriamlima, no Instagram. Nos encontramos lá para “esticar” a nossa prosa!